Eu já recebi mensagens de algumas pessoas pedindo para falar mais sobre o Arch. Por conta disso, resolvi abrir o bico e escrever a primeira resenha da minha vida sobre uma distro, nada mais que um humilde relato... Confesso que não sei por onde começar, então por favor não levem isso em conta ao julgar meu relato.
Bom, minha história com o Arch começou menos de duas semanas depois que pela primeira vez instalei uma distro no meu computador, que foi o Ubuntu, em agosto de 2006. Gostei tanto do Ubuntu (e gosto!) e passava horas fuçando no fórum, na wiki... Cheguei a ter as três variedades principais (K/U/Xubuntu) instaladas ao mesmo tempo na época. Multi-boot aprendido na marra e com ajuda do que ia lendo. Mas eu não estava satisfeito, apesar de estar feliz com isso. Minha curiosidade era tanta que eu precisava de algo mais, por assim dizer. Foi quando descobri o site Distrowatch e quando fiquei fuçando na seção para outros sistemas operacionais do fórum do Ubuntu. E vi alguém falando do Arch.
No meio de tantos nomes novos para mim à época, o Arch foi o que mais me chamou a atenção. Era descrito como uma distro que presa pela simplicidade - e "simples" não significa necessariamente "fácil" -, dando a oportunidade de construir seu próprio sistema a partir dela, tendo um poderoso gerenciador de pacotes (o pacman!) por trás e a distro inteira otimizada para processadores i686. Com isso tudo, vendo que o fórum deles também é amigável e que há farta documentação disponível, convenci-me após um tempo a arrsicar. Isso foi mais ou menos em outubro. Já havia até então testado outras distros, mas ainda sem coragem o suficiente para partir para o Arch.
Então, vamos lá. Você tem (ou tinha, na época - algumas ocisas mudaram!) a opção de baixar duas mídias diferentes: uma contendo só um sistema básico, e outra com "muitos aplicativos". Fiz o recomendado: como tenho banda bem larga (4mbps), queimei só a mídia com o sistema básico. Também imprimi dois guias de instalação diferentes.
Dei o boot pelo CD. Apareceu uma tela dando instruções sobre como escolher um layout de teclado (é só selecionar o br-abnt2 para a maioria de nós), e apareceu o programa de instalação, numa interface em texto. Daí, foi tudo mais ou menos nessa ordem:
Primeiro passo: preparar as partições e dizer os pontos de montagem.
Segundo: escolher os pacotes a serem instalados - instalei todos os do sistema básico, como recomendado. E proceder com a instalação.
Terceiro: instalar o kernel.
Quarto: instalar um gerenciador de boot. Ele dá opção entre o GRUB e o LILO. Gosto mais do GRUB.
Quinto (é aí que onça vai beber água): configuração manual dos arquivos de sistema.
Na verdade, pouco precisa realmente ser feito aí. Na maioria dos arquivos, não precisei mexer quase nada; o fstab já estava pronto, e quase nenhum dos outros tem algo que realmente precisa ser mexido. Só duas exceções, no meu caso: no /etc/rc.conf (principal arquivo de configuração do Arch) tive que informar meu modo de conexão em rede (no meu caso, dhcp via eth0) e informar meu fuso horário e, claro, tive que acertar o /boot/grub/menu.lst.
Sexto: salvar e reiniciar.
Durante alguma etapa do processo ele te pede uma senha de root. E só.
Bom, após reiniciar e escolher o Arch, você se depara com um terminal no modo texto, pedindo para entrar com usuário e senha. No caso, agora só há root. Beleza. Pronto: bem vindo ao mundo de Arch Linux! Você só tem um terminal e (quase) mais nada! Não, calma lá... Já estou na internet! Dei ping pelo terminal e tá beleza! O Vim também está instalado, viva! Também temos gcc e outras coisinhas! Mas eu quero a derma do meu KDE e minhas "frescuradas", caramba!...
E é aí que entra o todo-poderoso pacman. O melhor gerenciador de pacotes que existe. Nunca me deu problemas com dependências (ao contrário do APT), é rápido e eficiente, e é simples. Primeira coisa a se fazer depois de qualquer instalação do Arch: 'pacman -Suy', ou seja, atualizar o sistema. Depois, depende do que você quer... Som? 'pacman -S alsa alsa-utils'. KDE? Calma, antes instale o X: 'pacman -S xorg xorg-utils' e, claro, se tiver placa da nVidia: 'pacman -S nvidia'. Agora é arrumar o /etc/X11/xorg.conf (na verdade, não precisei
) e 'pacman -S kde'.
Mas lembre-se de apontar um usuário que não é root: 'adduser'. E de colocar seu usuário em grupos interessantes: audio, storage, optical, floppy...
Mas como descobri que tenho que fazer tudo isso? Sei que não listei 100% corretamente os procedimentos, mas é só para ter uma idéia. O negócio é que os requisitos para usar o Arch são:
1) Ter um certo domínio da linha de comando;
2) Ter muita curiosidade;
3) Gostar de ler, de procurar informações na wiki e no fórum;
4) Dispor de algum tempo inicial para perder.
Tanto que eu quebrei minha cara bonito na primeira vez que instalei o Arch e ziquei tudo.
Só fui tentar novamente quase um mês depois, mas dessa vez devidamente municiado.
Devo dizer que o Arch roda comigo muito melhor que o Ubuntu, em termos de desempenho e rapidez. E que, uma vez configurado "certinho", a única manutenção que ele requer é um 'pacman -Suy' de vez em quando. Tenho até auto-montagem de dispositivos e mídias nele.
Mas vamos agora aos verdadeiros diferenciais do Arch:
Pacman (sim, ele de novo)Ele é uma poderosa ferramenta para gerenciar seus pacotes. Dá flexibilidade total também para adicionar outros repositórios, ou mesmo para usar um CD/DVD ou mesmo alguma pasta da rede como repositório. E também eu nunca ouvi alguém falar dele falhando.
Algo relacionado é que os pacotes do Arch nada mais são que arquivos .tar.gz, contendo dentro dele um arquivo de texto com informações sobre dependências. Ou seja, se você quiser, pode simplesmente descompactá-lo para alguma pasta se quiser testar. Simples.
ABS (Arch Build System)Isto é algo que pouco usei até agora, mas já noto o poder. O ABS é um "esquema" que te facilita (e muito) a criação de pacotes do Arch via compilação do código-fonte. Você usa um arquivo chamado PKGBUILD, que basicamente diz para o computador como proceder a instalação/compilação. Já experimentei algumas vezes, e é realmente muito bom. Aliás, você pode, se quiser, combinar o pacman com o ABS e (re)instalar seu sistema inteiro a partir do fonte, a la Gentoo.
AUR (Arch User Repository)É basicamente um site que contém pacotes criados pela comunidade do Arch que não estão nos repositórios oficiais. Tudo instalado a partir do fonte mas, com ABS/PKGBUILDs, isto não é problema.
Se alguma coisa não está nos repositórios, existe uma chance enorme de estar no AUR. Ah, sim, existe um programa (baixado da AUR!) chamado yaourt, que é basicamente um modo de usar o pacman para procurar e instalar coisas da AUR, para facilitar e muito a sua vida.
O Arch não possui versões!Sim, é isso mesmo. Cada vez que o pessoal decide lançar uma nova ISO com o Arch é porque houve alguma mudança no instalador, e o "conteúdo" dela nada mais é que uma xerox do repositório "current" ao momento do lançamento. Tanto que, ao contrário do Ubuntu, você não tem que esperar sair uma nova "versão" para ter um kernel mais novo ou a última versão do seu programa favorito: se o mantenedor do pacote empacotou devidamente a nova versão do programa e está tudo OK, na próxima vez que você der um 'pacman -Suy' você terá seu programa novinho em folha. Isto também serve para o kernel! Por exemplo, o último kernel, o 2.6.22, logo quando saiu já estava no repositório "testing", e pouco mais de uma semana depois foi movido para o "current" - e para meu computador. Enquanto isso, o kernel do Feisty Fawn é o 2.6.20.16. É por isso que o pessoal se refere ao Arch como uma "bleeding edge distro".
Por isso que dizemos que a distro Arch não tem versões. As ISOs lançadas de vez em quando, sim, estas têm versões. Mas, por exemplo, se eu pegar a primeira ISO do Arch (de 2002), instalar e der um 'pacman -Suy', logo terei exatamente o Arch como ele é hoje.
Ah, sim, dá para deixar o Arch (quase) totalmente em português sem o menor esforço. Basta declarar pt_BR na sua localidade do /etc/rc.conf e apropriadamente serão baixados pacotes em português para os programas.
Também devo dizer que a wiki está ficando bem completa, e que os fórums ajudam muito para qualquer coisa. Iniciantes são muito bem vindos lá. A comunidade ainda é um tanto pequena (crescendo muito), mas ajuda pra caramba.
Bom, galera, é isso. Espero que tenha sido minimamente útil.
E podem perguntar coisas se quiserem, pois com certeza algum ponto ficou nebuloso e com certeza há curiosidades sobre coisas que não mencionei. E quero deixar claro que continuo usando Ubuntu, neste exato momento inclusive!