Paldo

[Piras]

Paldo GNU/Linux é o nome de uma distribuição suiça, criada com foco no Upkg, um misto de gerenciador de pacotes, instalador e configurador do sistema, construído em XML. Ela pretende ser uma distribuição Linux pura e versátil, o que significa dizer:

(1) que conciliando a capacidade de compilar facilmente pacotes-fontes e a oferta de pacotes binários, ela pode ser facilmente ajustada às características de cada equipamento sem perder, contudo, a comodidade;

(2) que as fontes dos pacotes binários só recebem os patches indispensáveis a correção dos defeitos encontrados, conservando sua pureza original.

Bem, preguiçoso como sou, sempre tive interesse pelo Paldo, mas só decidi instalá-lo depois que a última versão estável trouxe consigo um Live CD com instalador gráfico.

Então vamos a minha experiência:

O Paldo é um bom Live CD, pelo menos naquilo que mais se espera de um live CD: bom reconhecimento e configuração de hardware e um sistema bem configurado. Todo o meu equipamento foi bem detectado e configurado, inclusive a minha rede (uso banda larga Vírtua), o que não tem sido tão fácil nestes últimos meses. E tratando-se de um sistema que roda diretamente do CD, até que ele rápido, pelo menos, mais rápido que o Live CD Ubuntu.

O Live CD oferece um Gnome bastante puro, como, aliás, pretende sempre fazer a distro. Como o próprio Ubuntu, o Paldo parece seguir integralmente o princípio "um programa para cada tarefa". Nada de redundâncias, portanto! E quase todo programa gráfico instalado é aquele disponível por padrão no Gnome.

De tudo o que "enfrentei" no Paldo, nada me agradou tanto quanto o instalador: fora o sistema gráfico de instalação oferecido aqui pelo Ubuntu, nenhum outro sistema de instalação constante de live CDs me pareceu tão prático e eficaz quanto este; para dizer a verdade, nem mesmo a versão do Anaconda disponível do Live CD Fedora me impressionou tão bem. Não que ele disponha de muitas opções: na verdade, acho que ele encontrou o equilíbrio perfeito entre a simplicidade e o oferecimento de algumas opções básicas de configurar a instalação. Desse modo, quem quiser, por exemplo, instalar o seu diretório /home numa partição em separado, como eu mesmo sempre faço, não terá a menor dificuldade. E um simples clique permitirá ao usuário particionar o seu disco rígido por meio do cfdisk ou do GParted.

Se instalar o sistema por meio do live CD é muito fácil, configurar são outros quinhentos. Neste ponto, o Paldo lembra muito mais o Slackware do que o Debian ou Ubuntu. Felizmente, como meus periféricos já haviam sido reconhecidos e configurados corretamente pelo Live CD, não tive dificuldades. Mas quem não tiver a mesma sorte terá mesmo que usar um despojadíssimo script para configuração do xorg-conf (http://www.paldo.org/paldo/sources/x-window-system/X-20070320).

Por outro lado, instalar os drivers proprietários da placa de vídeo não constitui problema, já que eles estão disponíveis via pacotes binários. O mesmo acontece com o Compiz & Cia. (plugins, compiz-manager, etc.).

Para mim, o mais decepcionante no Paldo foi mesmo o seu precioso Upkg. Não que ele seja ineficaz. Para mim, todas as operações realizadas, foram concluídas com sucesso. E os comandos requeridos pelo programa são bastante simples e intuitivos; é fácil adivinhá-los. O problema é a lentidão infernal, que faz até versões antigas do YUM parecerem verdadeiros jatos!

Em compensação, o repositório Paldo é relativamente rico: pelo menos os aplicativos mais populares estão lá. Agora, a construção de pacotes binários, que deveria ser simples e intuitiva, ao menos segundo os princípios da distro, não me pareceu muito menos complexo que o mesmo processo no Slackware ou na Arch Linux. E, ao contrário destas duas, o Upkg não dispõe ainda de interface gráfica. Mas, pelo que li no fórum, cogita-se a adoção do excelente PackageKit, já adotado pela Forsight.

No que tange ao desempenho, é difícil emitir uma opinião conclusiva. O sistema em geral me pareceu sensivelmente mais rápido que o Ubuntu, mas a verdade é que o equipamento em que testei a distro e no qual uso o Ubuntu está um pouco acima da média, especialmente da média predominante no Brasil. Seria preciso testá-lo num sistema um pouco mais limitado para sentir até que ponto esta leveza e rapidez são ampliadas ou mantidas. De qualquer modo, além de um boot mais rápido (está certo que não se trata de um boot "gráfico"...), ali todos os programas - inclusive alguns mais pesados, como o Firefox e OpenOffice - abriam quase que instantaneamente.

O fórum Paldo pareceu-me surpreendentemente movimentado para uma distro tão recente e desconhecida, prova de que ela já está despertando alguma curiosidade no mundinho Linux. Não me parece que a polidez e solicitude do administrador do fórum, também líder do projeto, sejam estranhas a esse sucesso. Eu não li dúvida que não tenha sido respondida, sempre de modo educado. De certo modo, o fórum Paldo lembra o que antes foi o fórum Kanotix, um modelo de cooperação e conduta amistosa.

Mas a minha opinião geral a respeito do Paldo não poderia ser de todo positiva. Não que eu ouse confrontá-lo com distribuições como o Ubuntu, Fedora, openSuse ou Mandriva. É claro que seu foco é bem outro. No entanto, mesmo comparado ao Slackware ou a Arch Linux, o Paldo ainda não se sai tão bem. Afinal de contas, para quem deseja um sistema simples, leve, despojado e flexível, a Arch Linux tem a vantagem de ser mais madura, dispor de uma comunidade mais ampla e consolidada e, sobretudo, de um gerenciador de pacotes (pacman) quase sem par no mundo Linux. O Slackware conta com vantagens semelhantes, além de uma estabilidade quase legendária. Em comparação a estas duas, o que poderia oferecer o Paldo?

Bem, a única vantagem perceptível do Paldo é o seu instalador gráfico, aliás exatamente o instalador gráfico que tanta falta faz ao Arch ou ao Slackware - ao menos para o usuário principiante, é claro. E como o foco do Paldo está no Gnome, ele poderia ser perfeitamente um alternativa a quem aprecia a estabilidade e pureza do Slackware, mas que não encontra estas mesmas características no Gnome oferecido pela comunidade (Gnome Slacky, Gware, Dropline Gnome, etc.).

É claro que o crescimento e evolução do Paldo podem mudar bastante esse panorama e em pouco tempo. De qualquer modo, posso dizer que a minha experiência com a distro foi agradável; mas em nenhum momento pensei em conservá-la no meu disco rígido.

[sylvester]

Muito boa essa análise! Eu já tinha lido sobre ela na distrowatch mas o teu texto está excelente.

[Piras]

Obrigado, sylvester! Nada que se compare aos seus próprios textos sobre o Debian, é claro  . Decidi testar algumas distros mais "exóticas" e relatar o resultado por aqui. A próxima será uma surpresa de Ano Bom!