E se a pirataria fosse extinta?

Iniciado por zohguy, 25 de Novembro de 2006, 14:38

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zohguy

Caso as novas tecnologias que estão despontando, como chips "seguros" (para os desenvolvedores de software comercial), venham a dar certo e se desenvolvam, juntamente com os novos mecanismos de autenticação da Microsoft, é possível que fique bem mais difícil piratear programas de computador.
Até pouco tempo atrás utilizar softwares piratas não causava realmente nenhum prejuízo para o usuário final; mas atualmente já é uma complicação atualizar softwares piratas, fazendo com que tais versões não registradas sejam consideravelmente mais propensas a bugs, falhas de segurança, além de não possuírem funcionalidades que são acrescentadas mais tarde aos programas.
Se um dia a pirataria se tornar realmente uma opção não viável, por conta de softwares que não podem ser atualizados ou que tenham suas funcionalidades demasiadamente restritas, como irá ficar o cenário do software nos países em desenvolvimento?
Essa pergunta é bastante relevante e pode vir a gerar, nos próximos anos, um impacto considerável na configuração global do mercado de software.
Ao adquirir um computador com toda a configuração de software comercial básica, legalizada, o consumidor precisaria desembolsar hoje em dia, no mínimo: R$ 498,89* (impostos não estão incluídos nesse valor). Esse valor é referente ao Windows XP Home Edition OEM e ao Office 2003 SBE (versão básica destinada à estudantes).
Enquanto as empresas que não tem um nome de destaque no mercado montam e vende um grande número de computadores no Brasil, os consumidores brasileiros não sentem o impacto desse valor ao realizar a compra, pois tais computadores normalmente vem com versões pirateadas e mais completas do software básico: Windows XP Professional e Office 2003 Professional.
O impacto seria se mesmo estas empresas, que fornecem os computadores para aqueles consumidores que não tem condições de comprar com as grandes marcas, viessem a cobrar pelo software instalado. O consumidor iria perceber que está pagando mais e recebendo um software com bem menos funcionalidade.
Neste caso o que poderia acontecer?
Os usuários finais se tornariam bem menos produtivos, não tendo mais acesso a versões completas dos programas ou teriam de partir para o universo do software livre.
Imagino que se a pirataria fosse mesmo extinta, os maiores beneficiários seriam os usuários finais e os desenvolvedores de software livre. Os usuários finais seriam beneficiados por passarem a utilizar programas gratuitos, dentro da legalidade e com uma qualidade cada vez maior; a comunidade dos desenvolvedores de software livre iria crescer consideravelmente, sendo capaz de criar e aperfeiçoar os programas em menos tempo.
E os desenvolvedores de software comercial? Bom, aqueles usuários que não se sentissem aptos a mudar para o software livre (difícil imaginar alguém assim, dadas as atuais facilidades para fazer a mudança) seguiriam utilizando software comercial, pagando por tal software porém produzindo menos por utilizar versões mais restritas. E versões cada vez mais restritas dos softwares seriam criadas, como a versão absurda do Windows que foi desenvolvida para o mercado da Índia, onde só é possível rodar dois programas por vez, esse tipo de coisa.
E as vendas iriam cair, com certeza, pois por mais absurdo que pareça, a pirataria impulsiona a venda de software comercial. Uma vez que a pessoa tem o sistema instalado, é quase inevitável adquirir um ou outro software nessa ou naquela ocasião, de maneira legal. Com menos pessoas utilizando o software comercial, por não serem mais capazes de piratear e por necessitarem de recursos não oferecidos por tais sistemas, estas pessoas também deixariam de adquirir outros softwares comerciais, partindo para versões completamente livres.
Imagine o caso dos estudantes de universidades. Caso um estudante de física ou matemática fosse obrigado a pagar R$ 214,00* (impostos não incluídos) por uma licença do Matlab ou aprender a utilizar o SciLab, qual seria a opção mais lógica? Ou um estudante de publicidade, que fosse obrigado a escolher entre adquirir uma versão do Corel X3 por R$ 258,08* ou utilizar o Inkscape gratuitamente? Sem contar que, ao longo do curso seria necessário adquirir as atualizações para tais produtos. Não acredito que muitos estudantes estivessem dispostos a equipar seus computadores gastando mais de R$ 700,00* reais apenas para não terem que aprender a utilizar um programa open source.
Acho que essas observações acima são relevantes e demonstram por que o combate a pirataria as vezes parece ser muito frouxo e o motivo pelo qual está aumentando apenas gradualmente em passos de tartaruga.
As medidas mais duras de combate à pirataria só são tomadas após testes de mercado com opções mais limitadas e baratas dos softwares comerciais. Se há aceitação de um produto mais limitado e do preço, então é implementada uma nova medida, tornando mais difícil a utilização não autorizada da versão completa do software.
Essa lógica de pensamento evidencia o maior contraste entre as duas filosofias de software: enquanto o software livre visa disseminar o conhecimento, se aperfeiçoar e crescer junto com o seu usuário, o software comercial visa apenas vender, não importando se para isso é necessário privar o usuário de ser mais produtivo ou de utilizar um produto de qualidade superior.

* Os preços utilizados neste post referem-se às versões mais básicas e limitadas dos softwares citados, onde possível versões OEM. A fonte de tais preços são os sites de grandes marcas de computadores e o eBay, sendo que foi utilizado o preço em dólar, convertido para o real segundo o câmbio do dia. Não estão, portanto, incluídos os impostos praticados no Brasil sobre tais produtos. Logo, é de se esperar que o valor real a ser pago pelos consumidores seja consideravelmente maior.


cybertraveler

Não tenho dúvidas de que sem a pirataria, tudo seria melhor. O software livre iria se tornar comum, iriam surgir mais programas comerciais para SOs em software livre também. Iria acabar com a falta de compatibilidade e drivers de linux. O preço do software proprietário iria baixar e este se tornaria mais acessível. Bandas e músicos que não conseguem notoriedade por causa das bandas da moda teriam uma chance maior de divulgar o seu trabalho através do Creative Commons. A qualidade dos produtos iria aumentar. A livre concorrência poderia ser exercida e traria benefícios para todos. O desemprego diminuiria. Isso seria o ideal. A pirataria é um entrave para esta evolução, por isso sou contra ela. Aliás, um dos principais motivos que me fez abandonar o Windows completamente e migrar para Linux foi porque eu não desejava mais usar um SO pirateado. Com um combate maior à pirataria, isso iria acontecer com mais freqüência.

Avocati

Se criarem uma proteção, sempre haverá quem a quebre.
Isso é fato.  ;)

zohguy

Sempre haverá quem quebre enquanto valer a pena... A qualidade dos softwares livres está cada vez mais pondo a prova o quanto vale a pena o esforço dirigindo para quebrar as proteções... Esforço de programação que poderia estar sendo empregado no desenvolvimento de softwares open source de qualidade.


Curioso

E se a pirataria fosse extinta?

muitos morreriam de fome... no mundo todo

Glauco Hass

Citação de: Curioso online 27 de Novembro de 2006, 00:39
E se a pirataria fosse extinta?

muitos morreriam de fome... no mundo todo
Confesso que não entendi seu ponto de vista. Quem morreria de fome? Por quê?

Polaco

Vale lembrar que sempre que a gente for pensar em pirataria, devemos esquecer a realidade brasileira. No primeiro mundo a pirataria é muito menor, principalmente devido ao baixo custo dos programas.

Acabar com a pirataria eles podem até acabar, mas isso não vai nem arranhar o primeiro mundo, os países pobres sim é que teriam sérios problemas...
Ubuntu 10.04 x64 @ Dell Optiplex 740

zohguy

Tenho sérias dúvidas quanto a veracidade das afirmações de que pirataria gera dinheiro para alguém. A banda larga já é uma realidade em países como o Brasil e qualquer pessoa que souber utilizar o google pode encontrar o programa que quiser em versão pirata e baixar sem pagar um centavo. Se souber utilizar um programa de bittorrent então, fica mais fácil ainda.
Desde programas populares, como os da M$, até programas bem especializados, para um nicho restrito, como alguns de controlar máquinas industriais de médio e pequeno porte, estão disponíveis on-line.
A maioria das pessoas se dá conta mais cedo ou mais tarde que não existe necessidade de ir ao camelô comprar programas piratas, pois a questão toda é pagar menos, se pode ser baixado, ninguém vai querer comprar um CD ou DVD e pagar 7 ou 8 reais por ele.
Além disso, a pirataria se espalha através dos amigos, que emprestam suas cópias para outros amigos e assim por diante.
Acho que ninguém morreria de fome se a pirataria acabasse. É muito mais provável que se morreria de fome caso acabassem com a pirataria de DVDs ou CDs, que são artigos consumidos por pessoas que não tem computador.
Acho até que a idéia de que a pirataria gera lucro pra "organizações criminosas da máfia chinesa" e coisas assim são falácias da M$ e outras empresas querendo pressionar as autoridades para tomar atitudes.


Curioso

Citação de: Glauco Hass online 27 de Novembro de 2006, 08:36
Citação de: Curioso online 27 de Novembro de 2006, 00:39
E se a pirataria fosse extinta?

muitos morreriam de fome... no mundo todo
Confesso que não entendi seu ponto de vista. Quem morreria de fome? Por quê?

quem atualmente lucra com a pirataria? você mora em uma capital onde, nas grandes ruas, divide espaço com camelôs, ambulantes?

Glauco Hass

Citação de: Curioso online 27 de Novembro de 2006, 15:06
Citação de: Glauco Hass online 27 de Novembro de 2006, 08:36
Citação de: Curioso online 27 de Novembro de 2006, 00:39
E se a pirataria fosse extinta?

muitos morreriam de fome... no mundo todo
Confesso que não entendi seu ponto de vista. Quem morreria de fome? Por quê?

quem atualmente lucra com a pirataria? você mora em uma capital onde, nas grandes ruas, divide espaço com camelôs, ambulantes?
Não creio que seja discussão pra esse tipo de fórum, mas no caso da pirataria/vendedores ambulantes, um erro não justifica o outro, certo?
E quem lucra mesmo com a pirataria, são os que vendem para os ambulantes.
Os ambulantes já viviam antes dessa farra de softwares piratas e continuarão por muito tempo após uma hipotética extinção da pirataria.

cybertraveler

Como assim morreriam de fome? Como assim seria ruim? Acho um absurdo pensar que a pirataria traz algo de benéfico para a sociedade. O que a pirataria faz é TIRAR empregos! É claro que camelôs são empregados, mas empregos formais são extintos! Não é uma idéia boa trocar empregos formais por informais. E a quantidade de empregos gerada com o comércio de produtos originais é MUITO maior que a gerada pela pirataria. Os produtos originais financiam produtores, transportadoras, designers, marqueteiros e vendedores. Além de faxineiros, porteiros, seguranças e zeladores que trabalham nas empresas. A pirataria gera dinheiro para camelôs. O número de pessoas beneficiada é muito menor, mesmo levando em conta a grande quantidade de camelôs. A pirataria só traz prejuízos para todos. É um ato de corrupção na qual as pessoas não pensam na sociedade, apenas pensam em satisfazer um desejo egoísta. Sou completamente contra a pirataria.

zohguy

Gostaria de chamar a atenção para o ponto principal que quis apontar com meu post (e talvez tenha ficado meio perdido): Se a pirataria fosse extinta, se fosse impossível piratear software, acredito que uma enorme parte dos usuários que hoje em dia utilizam windows pirata (a absoluta maioria) vai passar a utilizar o Linux. Seja por que não quer ou por que não tem dinheiro para pagar *as* licenças.
Notem bem, não é só a licença do Windows, mas licenças do Office e demais programas.

Um cenário desses seria excelente, já que a multidão de usuários que migrariam para o Linux iria fazer com que o desenvolvimento do sistema fosse acelerado num ritmo nunca antes visto...
O lado ruim, que poria o Linux a prova, seria o surgimento de softwares comerciais (e as pressões advindas das grandes corporações como corel, adobe, etc), e a proliferação de vírus e malwares.


Eduardo_BSB

A pirataria certamente tira empregos de quem reclama dela. ;) Mas para economia como um todo acho que o que ela faz é desviar recursos. E isso PODE não ser totalmente ruim. Principalmente num país como o Brasil, importador de tecnologia. Deixamos de mandar pra fora, além de royalties, alguns empregos. Deixamos de gerar alguns empregos aqui, é verdade, na parte de suporte, distribuição e venda, além de alguns em desenvolvimento. Porém e os recursos que os usuários de produtos piratas "economizam" ? Não são gastos de outras formas ? Essas outras formas não geram empregos ? Será que não geram empregos formais no país ? Gerariam mais empregos ? Menos ? Existiriam fundamentos confiáveis para deduzir ser MUITO maior, de forma absoluta, a quantidade de empregos formais gerados pelo consumo de produtos originais, sem considerar o desvio dos recursos para outras formas de consumo ? Os empregos informais gerados pela pirataria são só a ponta do iceberg de recursos que são desviados. Considerem o valor agregado da informação obtida com produtos piratas no país. Livros, cd's, dvd's, programas de computador. Pessoas sendo formadas, tendo acesso à informação que não teriam de outra forma. A quantidade de dinheiro que "deixou de deixar" o país. O consumo "formal" dos trabalhadores informais. Não estou querendo ser favorável ou contrário à pirataria, estou procurando avaliar seus impactos econômicos, mas não acredito que seja tão simples avaliá-los e deduzir que termos como "absurdo", "corrupção", "tirar empregos", "trocar empregos formais por informais" sejam fáceis de serem aplicados a menos que por defesa de interesses individualizados.

Eduardo_BSB

Acho que o fim ou a diminuição drástica da pirataria também facilitaria a implementação de ações agressivas por parte da indústria de software para obter registros de direitos autorais cada vez mais subjetivos e generalistas. As vantagens econômicas seriam ainda maiores e o ambiente mais favorável. As recentes insinuações do Steve Ballmer sobre a cópia por parte do linux de recursos do windows é um exemplo do tipo de idéia desse pessoal (minha empresa copiou, mas como isso não vem ao caso agora, acuso quem me copia!). Num ambiente "oficializado", tudo seria passível de copyright (e economicamente superestimulado à). Claro que isso é completamente discutível sob o ponto de vista moral e factual (foi, não foi é, não é), mas não é esse o ponto. Daí a provar que focinho de porco não é tomada, o prejuízo poderia ser grande. A pressão das empresas aumentariam e de repente janelas, ícones, menus, sistema de arquivos, bandeja de sistema, logotipo no boot, enfim, qualquer coisa poderia ser questionada, podendo sufocar o software livre. ;)

zohguy

Citação de: Eduardo_BSB online 27 de Novembro de 2006, 23:21
(...) Considerem o valor agregado da informação obtida com produtos piratas no país. Livros, cd's, dvd's, programas de computador. Pessoas sendo formadas, tendo acesso à informação que não teriam de outra forma. (...)

Acho que já falei sobre isso no post original. Se para se formar a pessoa precisa utilizar um sistema operacional, existe o Linux. Se precisa utilizar um software de edição de imagens, existe o GIMP, se precisa utilizar um software de desenho vetorial, existe o Inkscape, se precisa utilizar a internet, existe o Firefox, Evolution, GAIM, etc, se precisa utilizar um software científico, existe o SciLab, etc, etc, etc...
Não vejo como produtos piratas auxiliam a educação no país, até pelo contrário, jogam milhares de estudantes de nível superior, todos os anos, na ilegalidade.
Nesse ponto o governo federal deveria fazer um esforço para conscientizar educadores e instituições de ensino público para que utilizassem apenas software livre.
Já instituições de ensino privado poderiam continuar usando o windows e outros...