Governo Russo impõe a breve prazo computadores com arquitectura ARM 64-bit

[Nosferatu Arucard]

Mais uma bizarria do actual Governo Russo que em nome da segurança nacional pretende que os departamentos governamentais e instituições nacionais (com ligações ao Kremlin) adoptem não somente o sistema operativo Linux, como vão mais longe ao ponto de "proibirem" (limitar) a arquitectura x86 (que é o padrão de facto nos Desktops, e até nas recentes consolas X1 e PS4), fabricada pela Intel e AMD e imporem a sua versão do processador ARMv8 (64-bit). 

Para mais informação, indico o link do site Phoronix:
http://www.phoronix.com/scan.php?page=news_item&px=MTcyNjU

Em termos gerais, qualquer distribuição Linux possui repositórios para a Architectura ARM (O Debian e o Ubuntu já definiram o código dos repositórios como arm64), e a priori para qualquer software open-source ter um Desktop ARM seria exactamente igual ao x86-64 (amd64), salvo algumas excepções.

Mas existem pelo menos dois problemas com essa decisão política:
O firmware dos ARM não está unificado, como o x86 (BIOS e UEFI), pelo que um instalador de uma distro ARM teria que suportar dúzias de diferentes firmwares. Mais de 90% das instalações do Linux em ARM "real" são feitas por chroot sobre um sistema Android ou similares (o kernel Linux e o bootloader são criptografados na EEPROM do firmware  ), e até já estou a beneficiar desta possibilidade, pois agora instalo a maioria dos programas Linux Desktop sem grandes problemas. (Abro a aplicação Debian Noroot, arranca o XFCE4, e depois abre-se o Root Terminal e instalo qualquer coisa com o apt-get install <pacote>)
Assim, os novos computadores Desktop ARM usarão que firmware ? Um port do Coreboot ? Ou um feito de raíz ?

O segundo problema (e dos grandes) é o facto dos russos terem usado programas de gestão que dependiam do Microsoft Windows ou do MS-DOS  que depois ficam com uma batata quente a dobrar nas mãos.
Isto porque, terão programas que necessitam de port via Wine (por causa da API) e de emulação (para emular o x86 em ARM!) como é o caso do Qemu. Embora seja possível combinar o Wine com o Qemu, na prática gasta-se mais de metade dos recursos do sistema para correr os programas com uma performance medíocre. Talvez os engenheiros russos ajudem a escrever um emulador tipo binary translator optimizado que torne a emulação x86 para ARM mais eficiente.
No entanto, isso seria quase inútil para correr qualquer jogo graficamente exigente, como um GTA 5 que sairá brevemente para PC. Usando o Wine via x86 seria excelente, metendo um Qemu binary translator num ARM seria sofrível. Correr o Windows via Qemu seria um desastre! 

Paradoxalmente, a maioria do software comercial vendido na Rússia, mesmo para Linux, foi claramente optimizado para x86.
Mesmo o humilde compressor rar (não o unrar, que é vendido sobre uma licença restrita do qual só admite a compilação directa) exige um emulador x86 para correr num computador ARM (Experiência minha!  ).
Felizmente, no Ubuntu/Debian basta fazer:
$ sudo dpkg --add-architecture i386
$ sudo apt-get update
$ sudo apt-get upgrade
$ sudo apt-get install rar:i386
(Ou transfere-se a última versão do site da RarLab, e depois copia-se o  ficheiro  rar_static para o /usr/bin/ como rar)

E depois, basta fazer:
$ qemu-i386 /usr/bin/rar a ficheiro.rar <ficheiros>
Embora o programa arranque numa fracção de segundo, a velocidade de compressão, mesmo num ARMv7 quad-core é sensivelmente equivalente a um Pentium 100 MHz! 
Já o novo ARMv8 rondaria um Pentium II a 300 MHz, que é a CPU padrão do emulador Qemu User Mode.

Isto revela que decisões políticas chauvinistas a introverterem o mercado tecnológico podem provocar dissabores. 

[san-alex]

Parece, que os jornalistas estão a por o boi a frente da carroça. Ainda agora li esta noticia num site russo:

Como parte do programa de substituição de mercadoria importada, ministério da industria e do comercio está a estudar possibilidade de produção de próprio processador, como alternativa ao Intel e AMD. Este processador podia ser utilizado em setor público. Nos planos está criação duma empresa que já no início do próximo ano podia começar produção. Como sistema operativo para desktops e servidores com este processador planeia-se utilizar Linux...

Na prática isto significa, que alguem, próximo do governo vai ganhar muito dinheiro, como já aconteceu com chamado "sistema operativo Nacional". Foi feito concurso público para criação deste sistema (não me lembro o valor exacto, mas era um valor astronómico), que ganhou uma empresa recém criada (de certeza, dum amigo do Putin) que "criou" Fedora ligeiramente alterada. Este sistema, que eu saiba não se utiliza em lado nenhum.