Subproblema #5a: O familiar é amigável
Assim, na maioria dos editores e processadores de textos "fáceis de usar", copiamos e colamos com o Ctrl-X e o Ctrl-V. Absolutamente não intuitivo, mas todo mundo está acostumados com essas combinações, que podemos chamar de "amigável".
Assim, quando alguém entra no Vi e vê que é "d" para cortar e "p" para colar, ele não o considera como amigável: isto não é o que ele costumava fazer.
É melhor? Bem, na verdade, sim.
Com o Ctrl-X, como cortar uma palavra do documento no qual você está agora? (Sem mouse!)
Desde o começo da palavra, Ctrl-Shift-Direito para escolher a palavra.
E Ctrl-X para cortá-la.
O Vi? dw deleta a palavra.
Que diria você de cortar cinco palavras usando o Ctrl-X?
Desde o início das palavras,
Ctrl-Shift-Direito
Ctrl-Shift-Direito
Ctrl-Shift-Direito
Ctrl-Shift-Direito
Ctrl-Shift-Direito
Ctrl-X
E com o Vi ?
d5w
O Vi é mais flexível e, realmente, mais intuitivo: "X" e "V" não são nem claros nem memoráveis para os comandos de "cortar" e "colar", enquanto que o "dw", para remover (apagar) uma palavra (Word), e "p" para colar (paste) são evidentes (nota do tradutor: Sim, enfim, em Inglês...). Mas o "X" e o "V" fazem parte da nossa cultura, por isso, mesmo se o Vi for muito superior, ele é pouco conhecido. Na verdade, ele é considerado pouco amigável. De qualquer outra forma, sem nenhuma base tangível, tudo levará uma interface do tipo Windows passar por fácil. E como vimos no problema # 1, o Linux é, necessariamente, diferente do Windows. Como era de se esperar, o Linux parece, portanto, menos "fácil" do que o Windows.
Para evitar problemas do tipo #5a, tudo o que você precisa fazer é tentar se lembrar que "fácil de usar" não significa "ao que estou acostumado"; tente fazer coisas como você costuma fazer e, se isso não funcionar, pare e pergunte a si mesmo o que um novato faria no seu lugar.
Subproblema #5b: Ineficaz é amigável
É uma triste e inegável realidade. Paradoxalmente, o mais difícil é o acesso à funcionalidade de um aplicativo, mesmo que ela pareça fácil.
É porque o fator "amigável" é adicionado a uma interface usando "índices" simples e óbvios - quanto mais, melhor. Afinal de contas, se colocarmos um completo novato na frente de um software de processamento de texto do tipo WYSIWYG (What you see is what you get - o que você vê é o que você tem) e pedirmos que ele coloque uma parte do texto em negrito, o que é o mais provável:
Que ele adivinhe que "Ctrl-B" é o padrão
Que ele busque pistas: ele tenta, clicando em "Editar " no menu. Errado, ele tenta de novo na linha de menus: "Formato ." O novo menu tem uma opção "Fonte...", o que parece promissor. Hehe! Tem a nossa opção Negrito." Missão cumprida!
Na próxima vez que você fizer um processamento de texto, tente fazer tudo através dos menus: sem tecla de atalho e sem botões. Utilize os menus, aconteça o que acontecer. Você se achará lento como um caracol, já que cada tarefa exige uma multiplicidade de digitações e cliques.
Tornar o software "fácil de usar" é como colocar rodinhas em uma bicicleta: elas fazem com que você ande imediatamente, sem necessidade de nenhum conhecimento ou experiência. Ele é perfeito para um iniciante. Mas ninguém acha que todas as bicicletas deveriam ser vendidas com rodinhas, fora as bicicletas para crianças: se te dessem uma bicicleta assim, hoje, eu aposto que a primeira coisa que você faria seria removê-las, para evitar congestionamento inútil: quando você sabe andar de bicicleta, as rodinhas se tornam desnecessárias.
E, da mesma maneira, muitos softwares Linux são projetados sem "rodinhas" - eles foram projetados para usuários que já têm alguma experiência e maturidade. Afinal, ninguém é novato a vida inteira: a ignorância é de curta duração e o conhecimento é para sempre. É por isso que o software é projetado, principalmente, para "adultos".
Poderíamos encontrar um contra-exemplo: Afinal, o MS Word tem todos os menus de fácil utilização e botões, além dos atalhos de teclado. O melhor dos melhores, provavelmente? Amigável e eficaz.
No entanto, isto deve ser colocado em perspectiva: por um lado, o lado concreto, ter todos os menus, botões e atalhos, significaria um monte de codificação e, como sabemos, os desenvolvedores do Linux não são pagos (nota do tradutor: é claro que várias suítes buróticas livres seguem esta ideia, mas é preciso ver em sua totalidade). Em segundo lugar, ele ainda não leva em conta, verdadeiramente, os super-usuários: poucos profissionais na publicação de livros ou jornais usam o MS Word. Você já conheceu um programador ou webmaster trabalhando no MS Word? Compare isso ao número de usuários do Emacs e do Vi.
Como é possível? Primeiro, porque um comportamento "amigável" elimina o comportamento eficaz: Veja o exemplo do copiar/colar acima. E, em segundo lugar, porque a maioria das funcionalidades do Word está fincada em menus que você deve pesquisar: somente os recursos mais comuns têm esses botões maneáveis nas barras de ferramentas acima. As funções menos usadas, que ainda são essenciais para os usuários avançados, têm acesso demorado.
Algo para se manter em mente, porém, é que as "rodinhas" estão, frequentemente, disponíveis, como opção, para os softwares do Linux: não é automático, mas estão, frequentemente, disponíveis.
Tomemos o exemplo do MPlayer. Você o utiliza para jogar uma mídia, pelo seu nome de arquivo, em um terminal ("mplayer nomedoarquivo.avi"). Você pode fazer avançar e retroceder usando as teclas "para cima", "para baixo", "pra esquerda", "pra direita". Não é super "fácil de usar". No entanto, se você digitar "gmplayer nomedoarquivo.avi , você obterá uma interface gráfica, com todos os seus botões, amigáveis e familiares.
Tomemos por exemplo o fato de copiar um CD no MP3 (ou Ogg): Usando a linha de comando, você deve usar o Cdparanoia para copiar os arquivos no seu disco rígido. Depois, você precisa de um codificador. Em minha opinião, é muito pesado, mesmo que você saiba utilizar os softwares. Assim sendo, é melhor baixar e instalar algo como o Grip. Ele tem uma interface gráfica fácil, que usa, em plano de fundo o Cdparanoia e os codificadores para tornar a importação de CDs muito mais fácil. Além disso, ele usa CDDB para nomear as faixas para você.
Idem para ripar os DVDs: o número de opções do Transcode é um pesadelo. Mas utilizar o DVD:: rip, que diz para o Transcode, no seu lugar, tudo o que deve ser feito de maneira simples e gráfica, qualquer um pode fazê-lo.
Então, para evitar problemas #5b: Lembre-se que as "rodinhas" tendem a ser funcionalidades opcionais e/ou terceirizadas no Linux, em vez de ser fornecida, automaticamente, com o produto principal. E, às vezes, as "rodinhas" podem não fazer parte do projeto.