Um ano de Ubuntu!

Iniciado por RamonB, 04 de Janeiro de 2010, 11:21

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RamonB

No dia 30/dez/2009 completei um ano de uso do Ubuntu.

Foi (e continua sendo) uma ótima experiência. E, durante este ano, concluí que, finalmente, o Linux tem uma distribuição que demonstra que é possível, sim, um sistema user friendly para usuários "não-geeks".

Aqui pretendo fazer um relato desta minha experiência. Acabou ficando um pouco extenso porque ela é voltada também para aqueles usuários que estão chegando (ou querendo chegar) ao mundo Ubuntu/Linux. E, como não sou xiita nem para um lado nem para o outro, pretendo colocar os prós e os contras que senti no Ubuntu e, principalmente, mostrar porque ainda não consegui abandonar completamente o Windows.

Mas, antes do meu depoimento, vou colocar qual é minha bagagem técnica. Já atuei na área de Informática mas deixei de ser técnico há muitos anos (ainda nos tempo jurássicos dos mainframes, ou seja, bem antes do advento dos PC's). Em termos de microcomputadores sou uma espécie de "usuário especialista", ou seja, aquele que tem algum conhecimento, que gosta de pesquisar aqui e ali e que lê revistas especializadas para usuários. Eu sou aquele a quem toda a família recorre quando o computador dá problemas e que os resolve... quando estes não são muito complicados. Se tiver que ir às "entranhas" do hardware ou do software, minha especialização acaba. Colocado este meu background, vamos lá.


Primeiros Contatos com Linux

Por volta de 2002 ou 2003, resolvi experimentar o Linux mais como diversão.

Depois de uma rápida pesquisa, me decidi pelo Mandrake (que depois virou o atual Mandriva). Achei-o interessante a princípio mas quando comecei a usá-lo para valer vieram os problemas: dificuldades para instalar programas, falta de drivers para componentes comuns e até dificuldades para configurar o acesso à banda larga fixa (consegui depois de vários dias de pesquisas e tentativas). Fui usando-o cada vez menos até que, em determinado momento, precisei de mais espaço em disco e não tive dúvidas: "queimei" a partição do Mandrake e assim, de forma lamentável, encerrou-se minha primeira experiência com Linux.

De uns tempos para cá, comecei a ouvir falar cada vez mais no Ubuntu até que, um dia, lendo um artigo em uma revista para usuários de Informática, vi que havia a possibilidade de instalá-lo no próprio Windows, podendo, a qualquer momento, removê-lo como se fosse um programa qualquer. Isto despertou minha curiosidade e acabei comprando uma publicação com dicas para instalar o Ubuntu.

Baixei a imagem do Ubuntu 8.10 (Intrepid Ibex), gravei um CD de instalação através do Nero e fui rodar o Wubi, o programa que instala o Ubuntu sob o Windows.


Apanhando para Instalá-lo

No dia 30/nov/2008, fiz a 1ª instalação. E comecei apanhando: próximo ao final da instalação, o Wubi informava que havia um erro no CD e abortava a instalação. Achei que era problema na gravação do CD e, depois de perder alguns CDs, pesquisei na Web e vi que era um problema cuja solução era um tanto complicada. Acabei, então, instalando o Ubuntu através de um cartão SD (usei o programa Unetbootin para gerar a imagem no cartão SD).

Depois que o instalei, novo problema: baixei as atualizações recomendadas pelo próprio Ubuntu mas ele travou quando re-bootei e, depois de várias tentativas, resolvi desinstalá-lo completamente. Voltei a tentar mais algumas vezes, sem muito afinco, até que, no dia 30 de dezembro, consegui instalá-lo e tudo funcionou normalmente, inclusive após as atualizações.

O Ubuntu instalou-se "dentro" do Windows sem problemas. O "dentro" ficou entre aspas porque, ao contrário do que eu pensava, o Ubuntu não passou a ser um programa do Windows. O que aconteceu foi que o Wubi criou um grande arquivo dentro do meu disco Windows e, ao dar o boot no Ubuntu, este via o arquivo como se fosse um disco seu. A partir do boot, o Ubuntu rodava totalmente independente do Windows. Ou seja, ele só é um programa dentro do Windows caso você deseje desinstalá-lo mas não funciona como um programa do Windows (em outras palavras, você usa um ou usa o outro, não conseguindo usar os dois simultaneamente). Mas, por outro lado, isso também foi bom pois ele roda de forma plena, como um Sistema Operacional (SO) independente.


Primeiros Contatos

Depois dessa "surra" inicial, observei que o SO era realmente bom e muito fácil de usar.

Em primeiro lugar, reconheceu, de imediato e de forma automática, todo o meu hardware e até mesmo a rede wi-fi instalada em casa. Além disso, as atualizações, que eram uma pedra no sapato nos meus tempos do Mandrake, agora eram uma tranquilidade, tão fáceis (e automáticas) quanto no Windows – com a diferença de que, por ser tudo gratuito, eu podia instalar qualquer coisa que eu quisesse. Os menus eram, também, altamente intuitivos e fáceis de acessar/usar.

Assim, o que começou como uma curiosidade, foi me absorvendo cada vez mais e em menos de um mês já era meu sistema principal. Ia ao Windows só de vez em quando por causa de alguns programas. O que eu mais faço no computador é acessar a web, usar um pacote do tipo Office e ouvir música. E tudo isso dava para fazer, tranquilamente, no Ubuntu. As coisas também foram facilitadadas porque, mesmo no Windows, já era usuário do navegador Firefox e da suíte Open Office (BrOffice) há anos.


E Lá Foi o Ubuntu Também para o Netbook

Depois de três semanas, já estava tão entusiasmado que resolvi instalar o Ubuntu no meu netbook Asus eeePC 1000H. Pesquisei a respeito e resolvi instalar o eeeBuntu 2.0, um "sabor" específico para eeePC baseado no Ubuntu 8.10 e mantido por um grupo independente externo à Canonical (a empresa mantenedora do Ubuntu). Correu tudo bem e, como aconteceu com o desktop, em uma ou duas semanas o eeeBuntu já era o sistema principal do netbook (o outro era o Windows XP que já veio instalado).


Explorando o Ubuntu... e Gerando os Primeiros Problemas

Depois deste primeiro mês, já comecei a querer dar uma de "usuário sênior" ... e me dei mal! Comecei a mudar tudo, da aparência à tela de login (na inicialização), passando pela instalação do Compiz, do Cairo-Dock e por aí afora. (O Compiz é um gerenciador que dá uns efeitos especiais nas janelas, permitindo inclusive a visualização da área de trabalho em forma de cubo. O Cairo-dock é uma barra de tarefas parecida com a do MacOS.)

Resultado: tive vários problemas gerados por prováveis incompatibilidades. Vou ficar nos dois que me deram mais trabalho.

O primeiro aconteceu quando troquei um dos temas do login no netbook. Já havia trocado alguns sem problemas mas, ao fazer uma troca por um tema que queria testar, ao inicializar novamente ficava uma tela de fundo azul, sem qualquer texto nem imagem e com o ícone equivalente à ampulheta girando e girando mas não abria a janela para que eu fizesse o login. Com isso, fiquei impossibilitado de usar o computador e também não podia trocar o tema. E o pior é que estava viajando e não tinha nem como reinstalar o eeeBuntu. Acabei achando a solução no fórum do Ubuntu em inglês (consultado via Windows XP). Mas tive que fazê-lo no modo terminal, na base da linha de comando.

O segundo foi com o Compiz. Já o usava há algum tempo no netbook mas ao alterar uma opção, não consegui abrir mais nada pois quando clicava em uma opção (p.ex., Sistema, para acessar Preferências e acertar o Compiz), as janelas que apareciam eram pretas com molduras tipo arco-íris e sem as opções. Ou seja, não conseguia fazer mais nada no computador porque todas as opções e/ou caixas de diálogo ficaram ilegíveis. Até mesmo para clicar no ícone de liga/desliga, a caixa que abria era preta e eu era obrigado a sair pressionando o Power Off mesmo. Para dar um jeito na situação, entrei no modo de recuperação (recovery mode) como root e removi o Compiz através da linha de comando.

Em outras palavras: foram dois problemas gerados por mudanças (aparentemente) simples de configuração e usando as opções disponíveis, sem uso de linha de comando. Mas ambas me impediram de usar o sistema e a normalidade só voltou "na força bruta". Um usuário mais leigo teria tido sérias dificuldades.


A Partir Daí, Tudo Beleza!

Aprendida a lição ("se está funcionando, não mexa!"), segui a vida e fui cada vez mais fundo no Ubuntu. Em abril/09, quando saiu a versão 9.04 (Jaunty Jackalope), migrei e fiz algumas mudanças.

A primeira é que, no desktop, deixei de usar a solução do Wubi e instalei o 9.04 de forma nativa, ficando em dual boot com o Windows Vista que veio instalado no desktop Dell (e, para minha surpresa, foi mais fácil fazer esta instalação do que aquela outra via Wubi). No netbook, tentei instalar o 9.04 UNR, versão da Canonical para netbooks, mas tive problemas de renderização e que, depois descobri, seriam de fácil solução, bastando desativar os efeitos especiais. Mas, como não consegui a solução naquele momento, fui para o eeeBuntu 3.0, baseado também no 9.04.

A esta altura, eu mantinha o Windows apenas devido a 3 programas: o MS-Money, o Nokia PC Suite (para sincronizar agenda e contatos do meu celular com o PC) e o Media Monkey, cuja cópia adquiri para administrar meu catálogo de CDs de áudio e MP3.

Comecei a pesquisar por alternativas para estes programas. O mais fácil de substituir foi o MS-Money. Testei o GnuCash e o KMyMoney. O melhor para mim seria o GnuCash porque ele também dispõe de versão para Windows e a mesma base de dados pode ser usada tanto no Linux quanto no Windows. Mas a parte de relatórios dele é pouco adequada para um usuário doméstico e muito complicada para ser customizada (pelo que entendi nas minhas pesquisas, teria que estudar uma linguagem de geração de relatórios e aprender a programar nela). Então, optei pelo KmyMoney. Deu um trabalho enorme para migrar os dados do Money (eu não queria perder meu histórico que já tinha vários anos pois comecei com o Money em 1998 num CD que me foi dado de brinde pelo meu banco, depois substituído por um 2001 e mais tarde por um 2007, ambos comprados em viagens aos EUA). Mas consegui e hoje já uso o KMyMoney há vários meses e não sinto saudades do MS-Money.

Para os outros dois programas não achei saída. Vi algumas soluções para sincronizar o meu celular Nokia (principalmente agenda e contatos) mas nenhuma delas é simples. Tentei duas mas precisa ser mais geek do que eu para poder instalá-las, sem falar que todas elas só funcionam para determinados modelos de Nokia. Ou seja, quando eu mudar de aparelho, corro um sério risco de não mais ter compatibilidade.

E, quanto ao MediaMonkey, já tentaram me convencer a migrar para várias alternativas do Linux mas nenhuma delas chega sequer perto das facilidades do MM na administração de catálogo (o que chegou mais perto foi o Quod Libet mas ainda é muito longe do MM).

A solução que achei para não ir a todo momento fazer um novo boot foi instalar o VirtualBox (software que roda máquinas virtuais com outros SO dentro do Linux) e criar uma máquina virtual usando um Windows XP antigo que eu tinha quando comprei o desktop anterior. E, neste XP, faço minhas sincronizações do Nokia PC Suite e administro meu catálogo de CDs e MP3 através do MediaMonkey.

Outra coisa em que ainda apanho é para usar o meu scanner antigo, um HP Scanjet 2400. Já achei uma solução e a instalei mas algumas vezes funciona e muitas vezes não. Então, acabei instalando os drivers no XP do VirtualBox e vou para lá nas raras vezes em que necessito escanear algo.

Recentemente, quando saiu o Ubuntu 9.10 (Karmic Koala), fiz nova instalação a partir do zero em ambos os computadores, principalmente para reorganizar as partições para um tamanho mais adequado (nas 1ªs instalações, deixei a partição raiz enorme). No netbook, substituí o eeeBuntu pelo 9.10 UNR, que funcionou redondinho de primeira, sem nenhum problema.

Recentemente, tive mais uma dificuldade que me mostrou porque é bom manter o meu computador com dual boot, com Ubuntu e Windows. Estava no meio de uma viagem e decidi adquirir um modem 3G da Claro (um Huawei E220) para poder continuar acessando a web no meu netbook. O modem se instalou com facilidade no Windows mas apanhei no Linux. Pesquisei bastante na web e testei umas 5 ou 6 soluções propostas (uns 3 scripts, um programa desenvolvido no Brasil chamado open3g e até um programa da Vodafone europeia). E nada de resolver. Até que achei uma dica extremamente simples aqui no fórum Ubuntu-PT mas para um modem diferente do meu. Já em desespero de causa, decidi testar mesmo sendo para um modelo diferente – e funcionou! Assim, depois de dois dias, passei a usar o modem. Mas se eu não tivesse o XP em dual boot no netbook, não conseguiria pesquisar tudo o que pesquisei. Portanto, não pretendo, tão cedo, me desfazer dos Windows no desktop nem no netbook. Sempre servem para quebrar um galho numa emergência (ou para procurar uma solução, como neste caso).


Minhas Conclusões

Depois deste ano de uso do Ubuntu, cheguei a algumas conclusões.

A primeira delas é que de fato existe um Linux para "seres humanos normais". Finalmente, é possível usar uma versão de Linux sem precisar ser adicto por linha de comando e também sem precisar aprender a configurar quase nada manualmente. Então, ponto para o Ubuntu (e, é claro, para o pessoal da Canonical e toda a comunidade de software livre sobre quem a Canonical se apoia).

Um "senão" nessa filosofia para "seres humanos normais" é na instalação. Esta é bastante simples e intuitiva... até o momento em que você vai particionar os discos. Se for uma instalação ocupando todo o computador, não tem problema. É só usar a instalação automática mas, se for em dual boot com o Windows, há uma série de tarefas prévias à instalação (como desfragmentar o HD) e outras durante a instalação (definição do tamanho de cada partição e dos pontos de montagem e por aí afora). Não é uma tarefa trivial para um usuário comum principalmente porque, inadvertidamente, pode-se acabar formatando a partição do Windows. (Por sinal, também é o que acontece no mundo Windows pois este é fácil de ser instalado se for usar o disco inteiro. Nem sei se é possível instalá-lo já havendo outro SO instalado na máquina.)

Mas, passando esta etapa, vale a pena e, com certeza, vai-se gostar do Ubuntu. Deixo, no entanto, alguns conselhos para os neófitos.

A primeira é: se você é um usuário que não é "escovador de bits", siga a velha máxima: se está funcionando, não mexa. Ou seja, instale o SO e não fique mudando muito a configuração (o que, aliás, você também não faz no Windows pois ele, tirando um papel de parede aqui, um protetor de tela ali e mais um "confete" acolá, não é muito user friendly para mudar as configurações).

A segunda é: prepare-se para se surpreender. Depois que você se habituar com o Ubuntu, vai se sentir muito mais confortável com ele que com o Windows. Mas é claro que vai haver uma "curva de aprendizado". Esta curva será, com certeza, bem mais simples do quando você usou o Windows da primeira vez (ainda lembra?) e um pouco (só um pouquinho!) mais difícil do que quando você foi do XP para o Vista. Além disso, essa curva é mais rapidamente ultrapassada se você fizer uso dos fóruns de Linux e, principalmente, do Ubuntu. Nesses fóruns o pessoal é extremamente acessível principalmente com os calouros. O que eu mais usei (e ainda uso) é este, do Ubuntu Português (usuários do Brasil e de Portugal). O pessoal desse fórum é nota 10 e dá uma força enorme para quem está chegando.

A terceira é que não espere um paraíso no computador, livre de vírus, de "telas azuis", de travamentos, de abends. O mundo Ubuntu/Linux é muito mais livre dessas coisas chatas mas não é totalmente livre delas!

De fato, o Ubuntu/Linux é muito mais imune a vírus que o Windows. Mas você vai ter que continuar a tomar cuidado ao navegar na web pois muitas das armadilhas em que pode cair não têm nada a ver com o SO mas com a forma como você navega. É aquela coisa: em qualquer lugar do mundo, por melhor que seja a segurança de uma cidade, não caminhe sozinho por ruas escuras e desertas tarde da noite...

Da mesma forma, o índice de travamentos e o equivalente às "telas azuis" do Ubuntu/Linux é muitíssimo inferior ao do Windows. Mas você não está totalmente imune a estas coisas. Afinal de contas, estamos falando de software e, como diz aquela outra velha máxima, não existe software sem erro. Então, acontece de vez em quando de, sem mais nem menos, o sistema fechar tudo e abrir para um novo login (e, é claro, perdendo tudo em que você estava trabalhando e não salvou). É bem mais raro que no Windows mas já aconteceu comigo.

E, finalmente, se você é leigo e pretende ir para o Ubuntu, faça como eu. Antes de mais nada, mantenha seu Windows via dual boot (eu não recomendaria o Wubi porque, para mim, deu vários problemas até conseguir rodá-lo e isso pode desmotivá-lo e fazer com que desista do Ubuntu, o que seria um erro). Manter o computador com dual boot vai permitir que você conheça melhor o Ubuntu, identificando o que falta nele e que você só tem no Windows. Para quase todos os programas do mundo Windows há equivalentes no mundo Linux mas nem todos estes equivalentes têm as mesmas funções. Alguns são até melhores (eu, p. ex., gosto mais do BrOffice que do MS-Office mas os usuários do Photoshop reclamam – e muito – do Gimp, o equivalente no Linux).

E só acabe de vez com o Windows depois que tiver certeza que você pode viver sem ele. No meu caso, até hoje não apaguei o meu Windows e nem pretendo fazê-lo tão cedo. OK, eu o uso pouco, mas, além do espaço em disco que ocupa, ele não me faz nenhum mal em ficar lá e sempre pode quebrar um bom galho numa emergência (como no caso do modem 3G).
Notebook: Dell Inspiron 15 5584, 8 GB RAM, 1 SSD 480 GB, 1 HD 1 TByte. Dual-boot Linux Mint Cinnamon 21.1 / Windows 11
Notebook Dell Inspiron 13 5301, 8 GB RAM, SSD 480 GB. Dual-boot Ubuntu Budgie 22.04 / Windows 11
Notebook Lenovo Thinkpad X201, 4 GB RAM, SSD 120 GB. Linux Mint XFCE 21.1