Técnica de criptografia anti-tortura, por onde anda?

Iniciado por crdrj, 10 de Fevereiro de 2008, 05:13

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crdrj

Faz cerca de um ano e meio, eu estava navegando aleatoriamente pela Wikipédia, quando me deparei com o artigo rubber-hose cryptanalysis, que significa numa tradução literal criptanálise da mangueira de borracha. Ao invés de usar meios eletrônicos para acessar um arquivo criptografado, "governos fora da lei" usariam técnicas de tortura para esse fim.
No mesmo artigo, falava de uma ferramenta feita especialmente para este caso, que iria cifrar dois arquivos em um só, com duas chaves diferentes. Um arquivo contendo a informação sigilosa e outro contendo uma informação de certa relevância, mas não tão sensível.
O objetivo era que, quando sob tortura, o portador do arquivo pudesse, em um certo momento, revelar uma das senhas. Resguardado, assim, a sua vida e o que pudesse de sua integridade física, moral e psicológica, e ao mesmo tempo dissimulando os torturadores.
O programa era comentado no artigo (deniable encryption) era tido como capaz de gerar um arquivo único e convincente, sem dar pistas de que se trata na verdade de dois arquivos.
Acontece que vivemos uma época, em termos mundiais desde 9/11, em que a tortura se tornou ponto comum por parte das autoridades. E no Brasil, os noticiários e jornais mostram que a realidade não é muito diferente.
O elo mais fraco da ligação é o humano. Especialmente fraco quando as autoridades se acham no direito de agir à margem das próprias leis. Logo, acho estranho que não tenhamos essas possibilidades divulgadas mais amplamente.
No artigo sobre deniable encryption, algumas técnicas são citadas, me pareceram técnicas bastante trabalhosas de se aplicar e de se manter, sem dúvida trabalhosas demais para serem usadas sem a necessidade. Ainda assim acho interessante que esse conhecimento se propague, e que talvez evite ou desencoraje o uso de violência por parte das autoridades ou de marginais.
A segurança de senhas, no Linux em suas distros padrão, já é excelente, mas o elo mais fraco continua sendo vulnerável.

Por fim, antes que perguntem ou comentem, já aviso que sou absolutamente contra qualquer forma de tortura, em qualquer circunstância. O direito a vida e a integridade física* ainda é supremo e garantido por lei no Brasil (embora, especialmente pra quem é pobre, esse direito muitas vezes fique só no papel). Um estado que quebra suas próprias regras, e começa a agir de maneira fora da lei, desrespeitando princípios tão básicos quanto estes, para mim é um estado ilegítimo, corrupto e ilegal, perdendo, assim os seus direitos e a sua própria função ou razão de existir.
É assim que vejo a tortura praticada nos EUA, mesmo que em águas internacionais (só porque eles acharam uma brecha na lei, não quer dizer que se torne, por princípio, menos errado), e é assim que eu vejo qualquer tipo de violência policial, desde Jack Bauer até Capitão Nascimento. Nenhum deles é menos marginal do que os marginais que eles espancam. A polícia e a justiça existem justamente para não vivermos num estado de barbárie, ou anomia, onde a violência e a intolerância imperam, mas um estado de direito só pode existir dentro operando dentro deste corpo de direito, caso contrário tudo o que temos é apenas um predador sanguinário que é maior que os demais.
Essa é a minha opinião.


* obs.: acrescente-se ali o individual afinal vivemos num mundo capitalista, pro bem e pro mal. por isso mesmo os argumentos "Jack Bauer" da vida, sobre dispositivos atômicos e milhões de vidas não me convencem.
Vostro 1510 [-] Core 2 Duo T8100 [-] 2 GB DDR2 [-] GeForce 8400M [-] Ubuntu 8.10

brunei

Sabe, as vezes penso que produções como 24 Horas são formas de fazer as pessoas aceitarem certos níveis de violência usando um bem maior como argumento. Não vou entrar em discussão sobre o programa em si, por que todos tem o direito de gostar ou não, assim como assistir e dicernir o que é aceitável sob seus valores morais.
Bruno Ribeiro

alexcosta67


crdrj

Fico me perguntando se eles pedem para as pessoas dizerem as senhas em voz alta na alfândega... Bom saber disso, se um dia eu viajar com meu tiptop pros EUA, eu mudo minhas senhas todas para 12345 enquanto estiver por lá. hehehehehehe!
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IgorM0L


Comunista

#5
Concordo com sua opnião.

crdrj

Eu vejo mais ou menos da seguinte maneira: nossos pensamentos não são vocalizados a não ser que tentemos transmiti-los oralmente de maneira voluntária (com exceto as parapraxias), e aquilo que criamos, acessamos e exploramos por meio do computador, se aproxima muito do pensamento, do processo de aprendizagem e seleção, de descobrimento daquilo que vem a ser bom e que vem a ser ruim. Assim como nossos pensamentos, as informações que transitam em nossas máquinas deveriam ser inacessíveis às demais pessoas. Infelizmente o nível de segurança dos computadores ainda não chega ao nível de segurança de nossas mentes, quando se trata de reter informação de forma inacessível aos outros... E é claro, o Estado se aproveita disso para reafirmar sua autoridade e usa tais informações como meio de coerção. Um agravante quanto as informações digitais é que elas se misturam com informações comerciais e econômicas, o tipo de informação que não é inerente ao sujeito, uma vez que faz parte do interesse das instituições relacionadas. Daí a complexidade que futuros sistemas podem vir a ter de lidar, de separar a maneira como lidam com diferentes tipos de informações com diferentes abrangências e escopo de interesse, inclusive no aspecto legal. Tem coisa que só diz respeito ao usuário, e essas coisas deveriam ser respeitadas quanto a sua devida privacidade, as demais sim, poderiam ser escrutinadas em caso de necessidade pelo Estado.
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sylvester

Citação de: brunei online 12 de Fevereiro de 2008, 13:50
Sabe, as vezes penso que produções como 24 Horas são formas de fazer as pessoas aceitarem certos níveis de violência usando um bem maior como argumento. Não vou entrar em discussão sobre o programa em si, por que todos tem o direito de gostar ou não, assim como assistir e dicernir o que é aceitável sob seus valores morais.
Até a quinta temporada Jack Bauer tinha matado 136 pessoas. É um verdadeiro recorde, pois nem o mafioso Tony Soprano matou tanta gente.

http://opensourceformac.blogspot.com/                                      http://easyubuntulinux.blogspot.com/

IgorM0L

  Isso é algo presente na história. Nem mesmo precisamos de nos recorrer a filmes e seriados para mostrarmos essas brutalidades.
  Os maiores exemplos que temos são posturas da Doutrína Monroe, onde se espalhou pela América Latina, refletindo no Brasil na ditadura militar, por exemplo. Há milhões, provavelmente, de fatos desse gênero na história. Mesmo com essa assim, personalidades marcam nossa vida para manter o que querem, mesmo se esse tiver de passar por qualquer tortura.

CitarUm estado que quebra suas próprias regras, e começa a agir de maneira fora da lei, desrespeitando princípios tão básicos quanto estes, para mim é um estado ilegítimo, corrupto e ilegal, perdendo, assim os seus direitos e a sua própria função ou razão de existir.
Esses são os que se mascaram de livres e de democráticos.
Citaro. Nenhum deles é menos marginal do que os marginais que eles espancam.
Em uma guerra, não existem "moçinhos e moçinhas", todos são bandidos, todos são maus. Concordo com você.

  Para mim, o período mais interessante que passamos foi como os socialistas/comunistas lutaram por seus ideais. É disso que nos, hoje, precisamos aprender. A verdade poderá nos afastar de amigos, gerar ódios e guerras, mas terá de ser dita ou mantida.

  OBS: Não sou extremista, nem para direita nem para esquerda; é apenas uma opnião pessoal para criticar os Estados atuais.