Autor Tópico: 2006, um balanço.  (Lida 1719 vezes)

Piras

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2006, um balanço.
« Online: 27 de Dezembro de 2006, 04:01 »
Fim de ano é tempo de renovar esperanças a respeito do futuro, de tentar adivinhar o que acontecerá no próximo ano e – é claro – de esquecer do quanto nossas esperanças foram frustradas neste ano ou do quanto erramos nas previsões feitas no fim do ano passado.

Estou também muito empenhado em prever o que me aguarda em 2007, quase tanto quanto tenho me esforçado em esquecer tudo o que eu mesmo previ para este ano e que - logicamente – não se confirmou. Espero que os colegas contribuam para o sucesso de ambos os intentos, principalmente deste último.

A constatação de que não sou boa Dona Dinah não me priva, contudo, de tentar ao menos ser um bom contador e oferecer a vocês um balanço. Não exatamente um balanço contábil, mas “luxiano”, mas que terá também seus ativos e seus passivos, aliás, como quase tudo na vida.


Eu não esperava, como suponho que poucos esperassem, que 2006 seria para nós o ano do Compiz e do Beryl. Como se já não tivéssemos um bom milhar de siglas complicadas e tínhamos que inventar também um tal de XGL ou um fulano chamado AIGLX!  Mas foi exatamente por causa destes nominhos complicados que muito marmanjo exibiu o seu Linux aos “pagãos” do Windows do mesmo modo como os meninos exibem seu brinquedo novo no Dia das Crianças. Que doce vingança para os que alguns anos antes haviam instalado aquele sistema “esquisito, feio” exibir agora aqueles efeitos novinhos em folha: um cubinho aqui, uma transparência ali... Que gozo infinito para o “complexo de vidraceiro” dos nossos linuxianos o Santo Compiz e o Beato Beryl!


Mas 2006 foi também o ano em que a Sun decidiu reconhecer a força do mundo open source, abrindo finalmente o código do seu Ambiente Java. E o ano em que até mesmo a ATI, “torturadora” emérita dos “subversivos” do código livre, comprometeu-se a facilitar nosso acesso  aos seus “insuperáveis” drivers de vídeo...

E foi ainda em 2006 que o mundo open source chegou muito perto de esnobar até mesmo a poderosa Macromedia, colocando “na rua” o seu próprio plugin flash, o Gnash, que, a despeito da rima indecente, é bastante... decente.


Mas, como é possível falar de Linux, sem falar em “distros”? Vamos então a elas:

Este foi mais um ano em que o Sr. Shuttleworth, astronauta-hacker-programador-empreendedor-aliciador-de-”susistas”-insatisfeitos, continuou a olhar o mundo do topo, no céu do sucesso. Enquanto isto, seu colega Gael ex-Mandrake Duval, imitando Orfeu, descia aos infernos, onde, felizmente, ele soube dar a luz a Ulteo, o que lhe permitiu ficar um subir um pouco, até o Purgatório das versões instáveis – demasiado instáveis, diriam os maldosos – onde ele se encontra atualmente, mas, que pela sua experiência pregressa – diriam novamente os maldosos – é onde ele deve permanecer por meia eternidade...

Mas, como a solidariedade do homem é infinita – e a do linuxiano mais ainda! – outras distros de sucesso logo reuniram esforços para demonstrar que versões estáveis muito pouco estáveis não são exatamente um monopólio da Mandriva: até mesmo a “indefectível” openSuse deu-se ao trabalho, num verdadeiro prodígio, de lançar uma versão tão repleta de bugs que faria chorar de saudade os usuários de uma certa versão da finada Conectiva... Isto para não falar – é claro – do nosso querido Ubuntu Dapper, cujas maciças atualizações fizeram muita gente boa concordar com a afirmação de que, enfim, o Linux havia alcançado o mesmo nível do Windows...

Felizmente, o desenvolvedor-arqueólogo Patrick Volkerding, mais uma vez, preferiu permanecer à parte das tendências dominantes, contentando-se em demonstrar, mais uma vez, que seu velho Slackware é como esposa virtuosa: sem novidades, mas sempre confiável!

E foi também em 2006 que os desenvolvedores da Sabayon, linuxistas-neo-marxistas-gramscianos-vermelhos, gritaram: “Vidraceiros do mundo todo, uni-vos!”. E, como era de se esperar, todos os fanáticos do KDE, dos cubos e das transparências responderam a conclamação, convertendo, assim, a obscura distribuição italiana, cujo nome vem de uma bebida ou comida italiana da qual ninguém consegue lembrar-se – embora todos se lembrem de que é uma bebida ou comida italiana que ninguém mais ousa beber ou comer – num dos maiores sucessos do ano, tão cheia de efeitos quanto o filme Titanic, mas – infelizmente! – desprovida da respectiva Kate Winslet. Mas nunca subestime esses italianos! Eles chegam lá...

E como falei do Titanic, é preciso lembrar (sim, é preciso...) daquele titânico e “bem-sucedido”  esforço de propaganda chamado “Entrevista do Sérgio Amadeu e Júlio Neves no Programa do Jô”, do qual pudemos tirar, dentre outras “ricas” lições, esta edificante conclusão: de fato, todo iceberg é imenso, embora nem sempre quieto e gelado.

Faltou alguma coisa? Ah, sim! Os desenvolvedores da Elive continuam empenhados em mostrar que é possível fazer uma distro muito pesada com um desktop muito leve; a Synphony OS continua lembrando uma música muito bonita, mas com introdução longa demais; o Windows Vista – quando ninguém mais esperava – deu o ar de sua graça e o Debian Etch – como todos esperavam – negou o ar da sua.

E, por fim, os desenvolvedores da Austrumi exibiram mais uma vez, na última versão do seu Live CD, o desprezo de sempre pelas normas da licença GPL, deixando de dar os créditos devidos aos dignos usuários da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, especialmente aos passageiros do suburbano para Franco da Rocha e Francisco Morato. Foi com estes bravos brasileiros que aqueles letões ingratos aprenderam que apertando muito – e sem piedade – se consegue enfiar de tudo no espaço mais exíguo possível...

Ocioso dizer que o Grande Irmão Stallman emitiu uma opinião contrária, muito embora eu não saiba exatamente a que. Como ele também não sabe, é só uma questão de rotina.

Sim, foi um ano de grandes progressos! Pelo tom do texto pode não parecer... mas foi! O que!!! O Grande Irmão Stallman é contra, mas eu nem publiquei o texto ainda, C-A-R-A-L...











« Última modificação: 27 de Dezembro de 2006, 04:25 por Piras »

Offline greylica

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Re: 2006, um balanço.
« Resposta #1 Online: 27 de Dezembro de 2006, 15:34 »
Cara, muito bem escrito o seu texto, parece uma crônica do Alexandre Garcia sobre os Aeroportos e Brasília.