Fazer O Que Se Gosta x Gostar Do Que Se Faz

Iniciado por Curioso, 27 de Novembro de 2006, 00:34

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Curioso

Recebí esta crônica faz alguns dias, e gostaria de dividir com os membros desta comunidade UBUNTU. Administradores, as intenções são as melhores.

Fazer O Que Se Gosta x Gostar Do Que Se Faz

-- por Stephen Kanitz, formado em Administração de Empresas por Harward e articulista da VEJA

A escolha de uma profissão é o primeiro calvário de todo adolescente. Muitos tios, pais e orientadores vocacionais acabam recomendando "fazer o que se gosta", um conselho confuso e equivocado.

Nenhuma empresa paga profissional para fazer o que os funcionários gostam, que normalmente é jogar futebol, ler um livro ou tomar chope na praia. Justamente, paga-se um salário para compensar o fato de que o trabalho é essencialmente chato.

Mesmo que você ache que gosta de algo no início de uma carreira, continuar a gostar da mesma coisa 25 anos depois não é tão fácil assim. Os gostos mudam, e aí você muda de profissão em profissão?

As coisas que eu realmente gosto de fazer, eu faço de graça, como organizar o Prêmio Bem Eficiente; ou faço quase de graça, como escrever artigos para a imprensa.

Eu duvido que os jogadores profissionais de futebol adorem acordar às 6 horas todo dia para treinar, faça sol, faça chuva. No fim de semana eles jogam bilhar, não o futebol que tanto dizem adorar. O "ócio criativo", o sonho brasileiro de receber um salário para "fazer o que se gosta", somente é alcançado por alguns professores de filosofia que podem ler o que gostam em tempo integral. Nós, a grande maioria dos mortais, teremos que trabalhar em algo que não necessariamente gostamos, mas que precisará ser feito. Algo que a sociedade demanda.

Toda semana recebo jovens que querem trabalhar na minha consultoria num projeto social. "Quero ajudar os outros, não quero participar deste capitalismo selvagem".

Nestes casos, peço para deixarem comigo seus sapatos e suas meias, e voltarem a conversar comigo em uma semana. Normalmente nunca voltam, não demora mais do que 30 minutos para a ficha cair. É uma arrogância intelectual que se ensina nas universidades brasileiras e um insulto aos sapateiros e aos trabalhadores dizer que eles não ajudam os outros. O que seria de nós se ninguém produzisse sapatos e meias, só porque alguns membros da sociedade só querem "fazer o que gostam?"

Quem irá retirar o lixo, que pediatra e obstetra atenderá você às 2 da madrugada? Vocês acham que médicos e enfermeiras atendem aos sábados e domingos porque gostam?

Felizmente para nós, os médicos, empresas, hospitais e entidades beneficentes que realmente ajudam os outros, estão aí para fazer o que precisa ser feito, aos sábados, domingos e feriados. Eu respeito muito mais os altruístas que fazem aquilo que precisa ser feito, do que os egoístas que só querem "fazer o que gostam".

Teremos então que trabalhar em algo que odiamos, condenados a uma vida profissional chata e opressora?

A saída é aprender a gostar do que você faz, em vez de gastar anos a fio mudando de profissão até achar o que você gosta. E isto é mais fácil do que você pensa. Basta fazer o seu trabalho com esmero, um trabalho super bem feito. Curta o prazer da excelência, o prazer estético da qualidade e da perfeição.

Se quiser procurar algo, descubra suas habilidades naturais, que permitirão fazer seu trabalho com distinção e que o colocarão à frente dos demais.

Sempre fui um perfeccionista. Fiz muitas coisas chatas na vida, mas sempre fiz questão de fazê-las bem feitas. Sou até criticado por isto, demoro demais, vivo brigando com quem é medíocre, reescrevo estes artigos umas 40 vezes para o desespero dos editores, sou super exigente, comigo e com os outros. Hoje, percebo que foi este perfeccionismo que me permitiu sobreviver à chatice da vida, que me fez gostar das coisas chatas que tenho de fazer.

Se você não gosta do seu trabalho, tente fazê-lo bem feito. Seja o melhor na sua área, destaque-se pela sua precisão. Você será aplaudido, valorizado, procurado e outras portas se abrirão. Você vai começar a gostar do que faz, vai começar até a ser criativo, inventando coisa nova, e isto é um raro prazer.

Faça o seu trabalho mal feito e você estará odiando o que faz, a sua empresa, o seu patrão, os seus colegas, o seu país e a si mesmo. Esta é na minha opinião, o problema número 1 do Brasil. Fazemos tudo mal feito, fazemos o mínimo necessário, simplesmente porque não aprendemos a gostar do que temos de fazer e não realizamos tudo bem feito, com qualidade e precisão.


zohguy

Acho que se a pessoa tem potencial deve buscar um trabalho que lhe seja gratificante. Essa idéia de que: "por mais simples e ordinário que meu trabalho seja, eu vou fazer ele como se estivesse tratando de uma situação crítica de segurança nacional e eu serei feliz por ser o melhor naquilo que faço, e alguém irá me notar e me dar uma chance melhor" não funciona na prática.
Na prática só funcionam duas coisas: o quanto o teu currículo é bom e o quanto você é hábil socialmente. Sendo o segundo item muito mais importante.
Não importa se o trabalho que te deram for a coisa mais simples e babaca de fazer, você deve ser capaz de fazer parecer que aquele trabalho é extremamente complicado e que a própria existência da empresa depende dele. Saber utilizar alegações veladas, ameaças vagas ajuda muito, e as vezes para isso é até melhor não saber do que se está falando, pois fica mais fácil de enrolar.
Caso você faça todos os trabalhos que te derem com extrema precisão e eficácia, poupando recursos da empresa e até melhorando o processo, cumpra os objetivos na metade dos prazos dados, ajude os demais colaboradores em seus projetos, a empresa irá enxergar você como um vagabundo desnecessário, cujo o trabalho deve ser fácil demais e até dispensável, já que você consegue executá-lo com tanta eficiência. Ainda mais se você não tiver um currículo de peso (por exemplo, se não tiver nível superior).
É uma realidade realmente horrível, que tira o tesão de qualquer um que queira fazer um bom trabalho e por suas habilidade produtivas a prova. É péssimo para as empresas e é péssimo para os funcionários que querem produzir e crescer de maneira honesta. Mas é a realidade do pensamento corporativo e empresarial do país.
Eu mesmo, sei que sempre irei depender muito do meu currículo (que por enquanto ainda não é grandes coisas) pois sou péssimo em fingir é difícil o trabalho que me dão para fazer, odeio ficar enrolando pra entregar as coisas, não consigo fazer nada de maneira lenta e sou um péssimo mentiroso.
É claro que eu gostaria de trabalhar num lugar onde os chefes acompanhassem de perto o desenvolvimento do trabalho executado pelos funcionários, houvesse um ranking de produtividade e que as pessoas que mandam soubessem o real desafio de cada tarefa apresentada e distribuída entre os funcionários...
Muitas vezes isso tudo não acontece não por má vontade, mas pela própria dificuldade em se lidar com grupos médios e grandes de trabalho e pela falta de ferramentas para poder manter tal controle.


Screwball

Cara, não me leve a mal, mas esse texto soa pra mim como uma justificativa do por quê os empresários podem arrancar sua pele, por quê tu deve se matar de trabalhar (e fazer um trabalho perfeito) e ser grato por isso.

Sabe qual é o sonho de qualquer empresário?
Um robô perfeito.

Esse robô pode trabalhar sem descanso, não fica doente, não faz greve, não reclama, não tem vontade, não se atrasa, aliás, não precisa de casa já que é um EQUIPAMENTO da empresa, só faz EXATAMENTE o que foi programado pra fazer.
Só precisa ligar na tomada. Maravilha!

Esse é o ideal de qualquer empresário.

Quem aí que nunca foi exigido dessa forma?
A única coisa que se esqueceram é que POR ENQUANTO, estão lidando com gente, pessoas.
E pessoas tem vontades, sonhos, preferências, etc.
São portanto, "ineficientes".

Mas eu acredito que em algum ponto do futuro, existirá esse tal robô.
Como ficam as pessoas, como eu e você?
Quem se importa?

Com certeza seu chefe é que não se importa...
$>cd /pub && more beer && \
> cd ~ && make unzip && strip && touch && grep && \
> finger && mount && fsck && \
> more && yes && umount && sleep

zohguy

Please alow me to introduce you the Guided Rat, a.k.a. ratbot.

São ratos guiados remotamente, com eletrodos implantados em diversas partes do cérebro (MFB - centros de prazer no cérebro - e cortex sensomotor). Foram desenvolvidos em 2002 por Sanjiv Talwar e John Chapin na no Centro Médico da Universidade do Estado de New York. Os ratos carregam pequenos dispositivos eletrônicos como que em uma mochila, contendo um receptor de ondas de rádio e estimulantes eletrônicos. Através desta "mochila" o rato recebe os comandos que estimulam o seu cortex sensomotor, fazendo com que ele sinta uma "sensação" de ir para a esquerda ou direita, além da estimulação do MFB que pode ser interpretada como sensação de prazer ou recompensa.

Depois de um período de treinamento os ratos podem ser condicionados a obedecer ao dispositivo, sendo remotamente direcionados para a esquerda, direita e para frente. É possível guiar o animal através de obstáculos e até mesmo fazer com que ele escale objetos.

Os ratos possuem diversas utilidades, como por exemplo servir de um novo modelo para estudos comportamentais (Behavioral Studies in Psychology), já que a estimulação do MFB é uma ferramenta valiosa para pesquisas.

O principal financiador do projeito do rato robô foi a DARPA.


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Um dia vamos ganhar um implante desse junto com a carteira de trabalho... heheheheeh


Curioso

Eu acho que não é por aí. Se você é um bom profissional, está QUALIFICADO para a área onde você desempenha suas funções então seu serviço é tranquilo. Se você não está satisfeito com seu emprego, o que lhe segura a ele? A possibilidade de, com sua formação atual, não arrumar emprego em lugar nenhum? Há um sem-fim de vagas pelo brasil sem preenchimento. Porque? Não há pessoal capacitado para tais serviços.

Há mercado de trabalho para quem é qualificado.

zohguy

Qual seria a definição de QUALIFICADO? Possuir algum diploma reconhecido para aquela função ou saber desempenhar a função?

O que mais tem no mercado são profissionais péssimos ou medíocres com super diplomas.


ctavares

Achei essa cronica mediana, em minha opinião procurar uma profissão que se goste não tem nada a ver com trabalhar de graça ou mesmo de madrugada, isso mais tem a ver com sustento de vida e com responsabilidade. Já trabalhei durante a madrugada e trabalhei porque precisei e porque gosto, ou seja, trabalhei por prazer e responsabilidade.

Talvez isso se encaixe melhor para uma pessoa que não tenha uma profissão ainda definida. E quanto a mudar de profissão durante a carreira eu me pergunto, qual o problema? Conheço uma pessoa que é advogado, ja teve restaurante, casa noturna e hoje tem empresa de fomento. Mudou de profissão na vida porque quis pois posso afirmar que essa pessoa nem mesmo precisa trabalhar.

Mas enfim,...
Abraço,
Carlos Tavares
Blog: http://ti-online.blogspot.com/ MSN: ctavaresjr@hotmail.com

Curioso

Citação de: zohguy online 30 de Novembro de 2006, 16:38
Qual seria a definição de QUALIFICADO? Possuir algum diploma reconhecido para aquela função ou saber desempenhar a função?

O que mais tem no mercado são profissionais péssimos ou medíocres com super diplomas.

não me faça essa pergunta, por favor. Todos sabemos o que é -de fato- qualificação.

zohguy

Todos quem? Muitas pessoas que tomam decisões de contratação nas empresas pensam que ser qualificado é ter um diploma de nível superior e alguns cursinhos.
A verdade é que muita gente se forma sem saber fazer porcaria nenhuma, e tira vagas de quem não é formado e sabe fazer.