Faz cerca de um ano e meio, eu estava navegando aleatoriamente pela Wikipédia, quando me deparei com o artigo
rubber-hose cryptanalysis, que significa numa tradução literal criptanálise da mangueira de borracha. Ao invés de usar meios eletrônicos para acessar um arquivo criptografado, "governos fora da lei" usariam técnicas de tortura para esse fim.
No mesmo artigo, falava de uma ferramenta feita especialmente para este caso, que iria cifrar dois arquivos em um só, com duas chaves diferentes. Um arquivo contendo a informação sigilosa e outro contendo uma informação de certa relevância, mas não tão sensível.
O objetivo era que, quando sob tortura, o portador do arquivo pudesse, em um certo momento, revelar uma das senhas. Resguardado, assim, a sua vida e o que pudesse de sua integridade física, moral e psicológica, e ao mesmo tempo dissimulando os torturadores.
O programa era comentado no artigo (
deniable encryption) era tido como capaz de gerar um arquivo único e convincente, sem dar pistas de que se trata na verdade de dois arquivos.
Acontece que vivemos uma época, em termos mundiais desde 9/11, em que a tortura se tornou ponto comum por parte das autoridades. E no Brasil, os noticiários e jornais mostram que a realidade não é muito diferente.
O elo mais fraco da ligação é o humano. Especialmente fraco quando as autoridades se acham no direito de agir à margem das próprias leis. Logo, acho estranho que não tenhamos essas possibilidades divulgadas mais amplamente.
No artigo sobre
deniable encryption, algumas técnicas são citadas, me pareceram técnicas bastante trabalhosas de se aplicar e de se manter, sem dúvida trabalhosas demais para serem usadas sem a necessidade. Ainda assim acho interessante que esse conhecimento se propague, e que talvez evite ou desencoraje o uso de violência por parte das autoridades ou de marginais.
A segurança de senhas, no Linux em suas distros padrão, já é excelente, mas o elo mais fraco continua sendo vulnerável.
Por fim, antes que perguntem ou comentem, já aviso que sou absolutamente contra qualquer forma de tortura, em qualquer circunstância. O direito a vida e a integridade física* ainda é supremo e garantido por lei no Brasil (embora, especialmente pra quem é pobre, esse direito muitas vezes fique só no papel). Um estado que quebra suas próprias regras, e começa a agir de maneira fora da lei, desrespeitando princípios tão básicos quanto estes, para mim é um estado ilegítimo, corrupto e ilegal, perdendo, assim os seus direitos e a sua própria função ou razão de existir.
É assim que vejo a tortura praticada nos EUA, mesmo que em águas internacionais (só porque eles acharam uma brecha na lei, não quer dizer que se torne, por princípio, menos errado), e é assim que eu vejo qualquer tipo de violência policial, desde Jack Bauer até Capitão Nascimento. Nenhum deles é menos marginal do que os marginais que eles espancam. A polícia e a justiça existem justamente para não vivermos num estado de barbárie, ou anomia, onde a violência e a intolerância imperam, mas um estado de direito só pode existir dentro operando dentro deste corpo de direito, caso contrário tudo o que temos é apenas um predador sanguinário que é maior que os demais.
Essa é a minha opinião.
* obs.: acrescente-se ali o
individual afinal vivemos num mundo capitalista, pro bem e pro mal. por isso mesmo os argumentos "Jack Bauer" da vida, sobre dispositivos atômicos e milhões de vidas não me convencem.