A nova ortografia e a união dos lusófonos em prol do SL.

Iniciado por Madrigal, 07 de Janeiro de 2009, 23:40

tópico anterior - próximo tópico

A união ortográfica ajudará no trabalho de tradução e desenvolvimento de programas em português?

Sim! Afinal a união faz a força, há algumas palavras diferentes mas não atrapalham a compreensão.
8 (57.1%)
Não! Pois há muitas palavras diferentes.
4 (28.6%)
Talvez... (Por quê?)
2 (14.3%)

Total de membros que votaram: 14

Madrigal

Como o meu trabalho de pós-graduação será sobre Tradução de Softwares Livres, gostaria de verificar a opinião dos membros sobre no que a nova ortografia pode ajudar ou não as comunidades do Brasil, Portugal e demais países de língua portuguesa.  ;)

pinduvoz

Votei em "talvez" porque, pelas notícias divulgadas até o momento, não há vontade de cumprir o Acordo Ortográfico de 1990, especialmente por parte de Portugal.

Explicando, Portugal se atrasou na aprovação do AO pelo respectivo Parlamento e não demonstrou interesse em regulamenta-lo e muito menos em elaborar, juntamente com o Brasil, o "Vocabulário Padrão da Língua Portuguesa".

Em resumo, hoje o AO está em vigor (parcialmente, pois a ortografia antiga conviverá com nova por algum tempo) apenas no Brasil e não temos um vocabulário padrão que afaste as dúvidas existentes.
:: Linux Registered User nº 439378 ::

flsantos

Em principio deveria ajudar.
Não sei a realidade do acordo ortográfico no Brasil, mas por aqui (Portugal) está tudo a ferro-e-fogo quando se fala no acordo. Sinceramente ainda não tive oportunidade de aprofundar o assunto...

Claro que em termos de tradução de software poderia, pelo menos, unir esforços numa única tradução para português em vez de todas as variantes.

Não nos podemos esquecer, e esse é um dos argumentos utilizados aqui em Portugal, é que mesmo as língua inglesa tem as suas variantes e não se vê nenhum esforço para a unificar.



pinduvoz

O post do colega português confirmou o que eu disse.

Parece que não há -- e não haverá, ao menos no futuro próximo -- vontade de implementar o acordo no país que é o "dono da língua".
:: Linux Registered User nº 439378 ::

Madrigal

Me esqueci de outra complicação... a colocação pronominal. No português falado em Portugal nunca usam a próclise em início de frase, no entando, para nós brasileiros, dizer "Esqueci-me" é que soa estranho na linguagem coloquial.  :P

O uso da próclise está tão consolidada na nossa fala, que deveria ser aceita na gramática normativa contemporânea.  :P

Mesmo com mais essa questão, acho que é uma dispersão de forças a separação em equipes distintas.

Polaco

Eu ainda continuo contra, não pelas mudanças em si, que são até facilmente assimiláveis com o tempo, mas pela tentativa de unificação "a força".

Em informática, o vocabulário é o maior entrave, e desculpem o meu pessimismo, mas sempre será.

Me sinto desconfortável quando leio em meu sistema "ficheiros", "ratos" e "ecrãs", mesmo sabendo seu significado, e aposto que portugueses também não aprovariam os termos utilizados por aqui numa tradução para o seu sistema.

E também é interessante a questão da próclise, embora eu considere muito bonita essa maneira de escrever, o dialeto brasileiro utiliza raramente em textos escritos e praticamente nunca no idioma falado.

Brasileiros também "amam" o gerúndio, não percebo isso nos portugueses.
Ubuntu 10.04 x64 @ Dell Optiplex 740

Madrigal

Citação de: Polaco online 08 de Janeiro de 2009, 20:04
Me sinto desconfortável quando leio em meu sistema "ficheiros", "ratos" e "ecrãs", mesmo sabendo seu significado, e aposto que portugueses também não aprovariam os termos utilizados por aqui numa tradução para o seu sistema.

Às vezes eu até uso "rato" no lugar de "mouse", acho que se houvesse uma vontade até poderia sim... mas eu não abriria mão de palavras de origem indígena por uma questão de preservação de nosso passado linguistico pré-lusitano.

Até tenho essa curiosidade, será que os portugueses incorporaram no falar cotidiano, palavras de origem tupi como "toró" (chuva forte e curta), "nhenhenhém" (falação), "socar" (bater), "jururu" (tristonho), "mingau" (papa), etc?

flsantos

Citação de: Madrigal online 08 de Janeiro de 2009, 20:27
Até tenho essa curiosidade, será que os portugueses incorporaram no falar cotidiano, palavras de origem tupi como "toró" (chuva forte e curta), "nhenhenhém" (falação), "socar" (bater), "jururu" (tristonho), "mingau" (papa), etc?

Já se utilizaram mais, principalmente na altura em que só consumiamos telenovelas brasileiras, agora é mais "in" utilizar expressões inglesas ;)

@pinduvoz Realmente ainda existe essa mentalidade dos "donos da língua", mesmo que essa língua seja uma mistura de vários dialectos deste o latim ao árabe passando por expressões germânicas.



vinicius_aleao

Vocês estão misturando as coisas. O acordo é ortográfico, unicamente ortográfico. Não existe essa história de unificar língua, vocabulário, ou o que quer que seja. Os portugueses continuarão dizendo "rato" e os brazileiros, "mouse". Para dar um exemplo exagerado, se o acordo ortográfico fosse no sentido de modificar a ortografia de "rato" para "rrato", todos os países de língua portuguesa escreveriam "rrato", mas não haveria obrigatoriedade de mudança de sentido. Mesmo escrevendo "rrato", essa palavra continuaria significando o animal no Brasil, e significando tanto o animal quanto o "mouse" em Portugal.

É por isso que nada impede que continue havendo traduções tanto para o português de Portugal (e similares) quanto para o do Brasil. Por exemplo, um documento português que falasse de monitores traria o termo "ecrã", enquanto uma tradução para o português do Brasil traria o termo "monitor" mesmo. Isso pode ser resolvido inclusive com um glossário simples para que uma tradução completa não seja necessária. E diga-se de passagem, isso não tem nada a ver com acordo ortográfico.

Enfim, o que quero dizer é que ninguém será obrigado a nada, a não ser a eliminar o trema, escrever "autorretrato" em vez de "auto-retrato", eliminar os acentos em "vôo" e "enjôo", etc. Nada mais que isso.

piroco

 vinicius_aleao concordo com você isso não significa que essas palavras deixaram de existir.
As girias as abreviações do messenger e muitas outras maneiras não officias de se falar são utilisadas.
Mas com certeza se esse acordo for levada a serio daqui uns vinte anos o português não será mais o mesmo

vinicius_aleao

Daqui a vinte anos, o português não será mais o mesmo independentemente de reforma ortográfica. As línguas mudam, evoluem, simplificam-se, e a escrita nada mais é que a representação da fala. Nascemos pra falar, não pra escrever, e é por isso que as reformas ortográficas existem: em grande parte, elas são motivadas pelas mudanças que ocorreram na fala (na língua, portanto) e que precisam ser incorporadas à ortografia. O português de Portugal vai continuar se diferenciando do português do Brasil, da mesma forma que o inglês britânico tem-se diferenciado do americano. Contudo, eles têm uma ortografia unificada, o que facilita o intercâmbio de documentos. Por outro lado, nada impede que um inglês ache "estranho" um texto produzido por um norte-americano e vice-versa, o que é absolutamente natural. Agora, perceba que essa "estranheza" vem da diferença natural entre os "idiomas", e não da ortografia. Acontecerá o mesmo entre Brasil e Portugal: continuaremos "estranhando" certas construções dos portugueses e vice-versa, mas a "tradução" em textos escritos de um para outro ficará um pouco facilitada por causa do acordo ortográfico.

Sinceramente, não vejo uma só razão para não se gostar desse acordo, a não ser, claro, uma certa "saudade" de como as coisas eram escritas antes.

pinduvoz

#11
@ vinicius_aleao:

só para esclarecer:

- o vocabulário deve ser, sim, único, fazendo parte do acordo a elaboração conjunta, pelo Brasil e por Portugal, de um "Vocabulário Padrão da Língua Portuguesa". Mas isso não quer dizer que nele não serão incluídas palavras como "ecrã" e "ficheiro", por parte de Portugal, e "tela" e "arquivo", por nossa parte. Continuaremos a usar palavras distintas para designar algo, mas o vocabulário será comum no que diz respeito à existência da palavra e sua grafia.

@flsantos

1) a expressão que eu usei deve ser interpretada literalmente (não é "pejorativa") pois, apesar de sermos maioria no uso do idioma (mesma posição dos americanos em relação ao inglês), ele veio de Portugal e nós o herdamos;

2) a resistência ao acordo não vem só de Portugal. Há resistência também aqui e talvez em outros países lusófonos;

3) expressões inglesas também são um "must' (rsrs) aqui.

:: Linux Registered User nº 439378 ::

livre1

Citação de: livre1 online 09 de Janeiro de 2009, 04:58
Citação de: flsantos online 08 de Janeiro de 2009, 08:24


Claro que em termos de tradução de software poderia, pelo menos, unir esforços numa única tradução para português em vez de todas as variantes.

Não concordo eu mesmo sabendo que ficheiro, e arquivo, e rato, e mouse, não gostaria de ver nenhum software que uso em português de portugual, e portugual não vai aceitar usar softwares em portugues, do brasil.

Madrigal

#13
Pinduluz, não existe esse negócio de dono da língua, usar esse termo, mesmo entre aspas, é totalmente errôneo. Se fosse para eleger um país como dono, acho até que o Brasil ganharia, veja a proporção de falantes em cada país lusófono.  8)

Uma coisa que me faz defender a união, é que muitas vezes vejo textos traduzidos, comparo as traduções pt_PT e pt_BR, e entendo ou fico mais confortável com a tradução para Portugal, por estar melhor traduzida. Se houvesse realmente a necessidade de separar, mesmo com a tradução brasileira um pouco capenga, esta seria melhor para a leitura.

Nossile

Pô, mas a reforma se restringe à acentuação, inclusão de letras, exclusão da trema e o uso de hífen. Nem é algo que vá realmente atrapalhar qualquer um. E parece que todos os países que compartilham o idioma, excluindo-se o Brasil, só vão fazer as alterações após Portugal.
sudo aptitude remove terno-e-gravata && sudo aptitude install bermuda chinelo -y