Como cheguei até aqui e como está sendo até agora - minha experiência com Ubuntu

Iniciado por glaubergoncalves, 03 de Fevereiro de 2007, 21:19

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glaubergoncalves

   Bom, finalmente vou deixar minha participação nessa parte do fórum, já tem alguns meses que estou por aqui e me considero um "Ubuntista", como todos os que participam neste espaço são, mas ainda não deixei meu depoimento relatando a experiência. Então lá vai...

   Quando comprei meu PC atual, a cerca de 2 anos e meio atrás, estava particularmente orgulhoso de ter adquirido um Windows Home Edition original, bem pago, e de quebra um pacote de softwares pra complementar o que faltava no Windows, que incluía o Norton com chave válida por alguns meses, o WordPerfect 12 super-ultra-mega-hiper light edition, enciclopédia, dicionário, etc..., tudo igualmente original, e igualmente bem pago... não tinha muita noção do que era Software Livre naquela época, já tinha ouvido falar em Linux, mas nunca tinha me aprofundado muito no assunto. Até conhecer o OpenOffice.org...

   Foi esse programa o divisor de águas no meu convívio com a tecnologia da informação. Estava bem aborrecido com o WordPerfect que comprei, parecia um demo: só tinha editor de textos e planilha eletrônica (até dava pra visualizar slides com uma gambiarra, descobri o executável "capado" do Presentations escondido na pasta do programa), os arquivos de ajuda eram restritos e dava pau o tempo todo. Saí a cata de uma suíte Office na net e me deparei com o o.o. Me embasbaquei com a qualidade do programa, tinha tudo que eu precisava, infinitamente mais completo que o WordPerfect que eu tinha, e tudo isso num programa livre, em todos os sentidos. Isso foi mais ou menos no fim de 2004.

   A partir daí, comecei a curtir a idéia do Software Livre, e aos poucos fui substituindo meus aplicativos no Windows por alternativas OpenSource: depois do o.o no lugar do WordPerfect, botei o Thunder no lugar do OE, depois o Firefox no lugar do IE (sim, fiz o caminho invertido, foi a ave que me mostrou a raposa, ou panda...  ;D)... e assim sucessivamente. Cheguei num ponto em que praticamente tudo o que era possível no meu Windows rodava na base do Software Livre. Então resolvi que o próximo passo era buscar uma alternativa livre ao próprio Windows.

   Lá pela metade final de 2005, baixei o livecd do Kurumim e comecei a fazer os primeiros testes. Apanhei um pouco pra detectar o hardware, não cheguei a fazer meu modem ADSL USB nem minha impressora Canon funcionar. Mas gostei muito desse primeiro contato, o Kurumin reforçou bastante algo que eu já tinha descoberto com os outros SL que estava usando, que era possível sim ir além do Windows e programas do mesmo gênero, e que conhecer e aprender sobre o software que estava na minha máquina podia ser algo bem fascinante e um grande estímulo pra simplesmente aprender cada vez mais.

   Depois de um tempo testando o Kuruma no livecd resolvi sair na busca por outras distros. Em parte pelos problemas de detecção do hardware, mas também pra ver o que mais tinha no mundo Linux, à essas alturas eu já estava ciente de que o universo de distros existentes era bem imenso, então me dispus a conhecer outras alternativas além da distro que me introduziu nesse universo.

   Foi nessa busca que encontrei o Ubuntu. De cara já simpatizei com a distro, a filosofia humana e livre que inclusive já mencionei no tópico "Ubuntistas" me atraiu fortemente, achei muito bacana a força que esta peça de software acaba dando ao contato humano e subseqüente troca de idéias e conhecimento, num ambiente que estimula a sinergia entre as pessoas (como por exemplo aqui no fórum), e também acaba deixando muito claro que o conhecimento, quando compartilhado e distribuído de forma equalizada entre as pessoas, contribui para o bem-estar de todos, tenho pra mim que o Software Livre talvez venha a ser uma das expressões marcantes do conceito de Inclusão Digital que hoje é tão discutido. No ambiente livre as pessoas tem a oportunidade de se tornarem agentes na busca de conhecimento, ao invés de meros espectadores e receptores passivos, que recebem tudo pronto, padronizado, decidido por um determinado grupo de pessoas.  No software proprietário, fica também a sensação de conhecimento unidirecional, vem do produtor do software ao consumidor deste, em mão única, é empacotado e eventualmente vendido apenas como um serviço, quando pode ser mais do que isso. Talvez o conhecimento unidirecional coubesse na era da televisão, do telespectador. Mas na era das redes, do conhecimento e da informação compartilhados, penso que podemos ir bem além... Enfim, são coisas que como estudante de Psicologia que sou não pude deixar de observar...  ;D

   Afora isso, gostei bastante do ambiente gráfico Gnome, que acabei simpatizando mais que o KDE que usava no Kuruma por considerar mais limpo, bonito e funcional, sem falar que ele já me era familiar de programas que eu usava no Windows, como o Gimp e o Gaim. Também a detecção de hardware foi muito feliz, apenas meu modem USB velho de guerra não se empolgou tanto quanto eu e o resto do meu hardware. :D E claro, minha placa de vídeo onboard SiS não tinha aceleração 3D no Ubuntu, mas isso naquele momento não chegava a ser prioridade pra mim.

   Aí entra outra parte importante do processo: com meus conhecimentos sobre hardware aumentando progressivamente em função das pesquisas que fazia e das coisas que aprendia, me organizei pra fazer um upgrade na minha máquina. E compactibilidade com o sistema operacional que tinha escolhido pra ela era uma das prioridades. Em fim, troquei minha impressora Canon por uma multifuncional da HP, e meu famigerado modem USB por um roteador D-Link. E mais tarde, comprei mais memória RAM e uma placa de vídeo offboard NVIDIA. Hoje todos esses itens funcionam redondo por aqui. O fato é que em outro contexto, digo, num onde não houvesse toda essa apropriação de conhecimento que tive, fazer upgrade de hardware poderia ter sido um processo mais dolorido: sem saber o que estou adquirindo, eventualmente acabaria optando por componentes de qualidade duvidosa, que poderiam ou não satisfazer minhas necessidades, e no final estaria a mercê de um técnico pra instalar e configurar tudo pra mim. Não tenho absolutamente nada contra técnicos em informática, de forma alguma, mas com o conhecimento que adquiri pesquisando sobre o assunto pude ser agente do processo, desde a escolha dos componentes até a montagem e configuração deles na minha máquina. Estou bem longe de ser um técnico, mas tem coisas que com um pouco de pesquisa, estudo, paciência, e ajuda de alguém que sabe um pouco mais, dá pra um leigo se virar razoavelmente...

   E então, desde abril de 2006, estou com o Ubuntu instalado na minha máquina. Comecei pelo Breezy, instalação em modo texto ainda. O processo foi tranqüilíssimo, li bastante o "how to" antes de proceder, e no momento da instalação estava com uma versão impressa do tuto do Morimoto sobre como instalar o Ubuntu, e seguindo os procedimentos indicados a instalação foi muito redonda, particionar o HD foi como cortar manteiga! Fica aqui meu agradecimento ao Morimoto, afinal foi através do Kurumim que comecei a caminhada, e até hoje é uma distro pela qual nutro uma grande simpatia, quem sabe um dia sai uma versão com Gnome no lugar do KDE (Gurumim!!! :D), daí talvez eu me anime num dual boot se tiver HD pra isso! Além disso, os tutos e livros dele sempre foram de grande ajuda pra mim, até em concurso público eu já aproveitei o conhecimento proporcionado por eles, e muito bem!

   Sigo com o Ubuntu desde então ininterruptamente. Nessa primeira instalação mantive o Windows em dual boot, mas as incursões à este SO foram muito poucas desde então. À medida que ia penetrando no universo do Ubuntu, ia ficando cada vez mais familiar, mas tranqüilo e agradável. Restrições rolavam sim, algumas rolam até hoje, mas nada que me impeça e muito menos que me desanime a continuar a caminhada. Até porque pra cada dúvida sempre existe a possibilidade de pesquisar mais, descobrir mais, aprender mais. No final, a dúvida, o "problema", só faz tu andar pra frente, ampliando teu conhecimento e buscando as soluções pro que antes tu não sabia que podia ter uma.

   E desde outubro de 2006, quando instalei o Edgy, o Ubuntu é o único SO na minha máquina. E está mais redondo do que nunca, não sinto nenhuma falta do Windows, tudo o que fazia lá estou fazendo aqui também, e aqui faço muitas coisas que lá eu não fazia. Dei pros meus irmãos a cópia original que tinha do Windows, já que lá eles estavam sofrendo muito nas mãos da versão ÇB desse SO (http://desciclo.pedia.ws/wiki/Microsoft_Windows_%C3%87B), e mesmo eu mostrando os benefícios de uma instalação Linux, eles não estavam muito dispostos a instalar nenhuma distro do sistema, então não forcei a barra, afinal a escolha é de cada um. E como o modem deles é USB, também fiquei com um pouco de medo de arriscar numa instalação mal sucedida.

   Bom, é isso, como eu disse antes, hoje estou com uma instalação redonda do Edgy, alguns problemas sim, mas muito pequeninhos comparados aos benefícios. Tudo o que aprendi até aqui fez cada parte do processo valer a pena. Problemas de som, de vídeo, detecção de hard, quase tudo tem sido resolvido, e se não, pelo menos contornado. Mas a cada versão do sistema que sai as coisas melhoram significativamente por aqui, por exemplo, problemas mais graves de som que eu tinha no tempo do Breezy são quase inexistentes no Edgy. E no que vai além do aspecto técnico, é fascinante estar envolvido no universo OpenSource, estar livre do jugo de empresas que impõem o processo de cima pra baixo, aqui se pode horizontalizar o conhecimento. Tudo isso é muito bacana!

Um abraço à todos, e parabéns pra quem conseguiu ler esse trambolhão que escrevi até o final! ;D
Gláuber

bruno.vitorino

Devo dizer que li tudo!! Cara acho que você fala por muitos de nós, o SL é uma porta que abre para muitas portas  :)
Excelente contributo o seu!
persistência, persistência,persistência...



glaubergoncalves

   Valeu! É sempre legal contribuir, tanto com dicas quanto com idéias!

theneus

 ;D  Muito bom o depoimento.... sou um evangelista do Ubuntu.... esta semana mesmo converti mais um...rs...e que por sinal esta adorando.....
Viva a liberdade de escolha!!
Theneus Storm
[color=red]Avatar removido novamente. Na próxima é ban temporário.[/color]

Neynder

Glauber, a única coisa que não afirmo é que vc dá conta de explicar o espírito filosófico Linux (Ubuntu em específico) em poucas palavras!hehehe! Vc escreve muito bem, e sua descrição pode ter certeza que muitos, que nem eu, vai concordar com cada palavra.
Abraços

Te mais!

jorze

Parabens pelo seu comentário. Apoio todas a palavras que li.
Já pensou em tornar o seu dom de escrita em algo mais consistente? Não que escrever em foruns tenha pouco valor, mas devia escrever mais para além disso.
Parabéns. Lerei sempre os seus contúdos